sábado, 3 de fevereiro de 2018

Meus carnavais - Você já viu a Mangueira entrar?


Entre 2000 e 2004 eu cobri os camarotes na Marquês de Sapucaí. De posse desta informação, o leitor mais apressado soltaria aquela expressão: “se deu bem”. No entanto, serei obrigado a desmistificar o glamour da minha jornada. 

Se eu disser que ingeri zero ml de cerveja mesmo passando todos esses anos no camarote da Brahma, o leitor dirá que sou um mentiroso. Mas acredite, não bebi. Comi, porque ninguém é de ferro. Tive tempo de arrumar uma treta e gestar um ranço profundo por dois personagens do esporte. 

O primeiro é o indefectível Carlos Arthur Nuzman. Fim de noite, chego ao camarote da revista Rio Samba Carnaval e o presidente do COB estava indo embora. Aproveitei para perguntar-lhe se os episódios de violência no Rio atrapalhariam a candidatura da cidade para os jogos de 2012. Quase me meti na seletiva da equipe de boxe. O ditador olímpico se enraiveceu e o pugilato quase se realiza. Do episódio, guardo um ranço do dirigente. Confesso um gostinho de vingança pelos dias que o cidadão passou na cadeia em 2017. 

Outro por quem não nutro simpatia é aquele centroavante que fez uma Copa brilhante em 2002 e deu uma amarelada clássica em 98. O jogador se comportou no carnaval como uma prima dona. Durante uma coletiva improvisada ele soltou a pérola: “não consigo ver os desfiles aqui, porque vocês jornalistas não deixam”. Fora o rastro de mau humor que deixava pelos camarotes da cervejaria. Iludido pela imagem de garoto humilde do subúrbio fui me aproximar dele para fazer uma pequena entrevista e ele mandou; ”só uma pergunta”. Tentei explicar que tomaria pouco tempo, dois minutos no máximo e ele falou enfaticamente “uma pergunta”. Fiz a pergunta, mas pensando bem não deveria ter feito pergunta alguma. 

Quem se mostrou simpático no mesmo carnaval foi o técnico da seleção na época. Luiz Felipe Scolari foi solicito e respondeu pacientemente as perguntas do repórter que a partir de determinado momento encontrava dificuldades em achar pessoas com condições etílicas aceitáveis para conceder entrevistas. Quatro meses depois ele se tornaria campeão mundial dirigindo o escrete canarinho, perdão pelo clichê futebolístico, mas não pude resistir. Não sei se terei outra oportunidade de me referir à seleção desta forma. 

Saindo da esfera esportiva, chego ao povo da política. Pelo que me lembro, o camarote da Prefeitura era mais farto quando Luiz Paulo Conde era alcaide. O de César Maia era mais “econômico”. Era engraçado também, quando Cesar e Garotinho trocavam farpas. Seus camarotes eram relativamente próximos. Um falava mal do outro e a gente repercutia durante o carnaval. 

No fundo, o grande barato da avenida era encontrar os coleguinhas e conversar sobre tudo. Nota do blogueiro para quem não é jornalista, Coleguinha = Jornalista. Aliás, na Marquês de Sapucaí tem um correspondente ao clássico “é pavê ou pá comer” do Natal. No carnaval a piada batida é “você já viu a Mangueira entrar?”


Às vezes o cansaço era tão grande, que só restava rir da piada. A exaustão e as bolhas no pé até davam graça à conotação sexual da sentença. 

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