terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Cristiane Brasil e um governo com vocação para crise


A conversa de Cristiane Brasil com os assessores na campanha de 2014 desnuda a relação de alguns secretários com os funcionários de seus gabinetes. Muito se fala e pouco se prova, é verdade. Mas já houve casos em que parte dos vencimentos dos assessores foi para o partido ou para o próprio parlamentar. Se isso for levado a fundo, muito mais coisa vai aparecer. Na Alerj, por exemplo, já houve episódios de nepotismo cruzado. Um parlamentar emprega um parente de outro nobre parlamentar, que acaba lhe retribuindo o favor. 

A julgar pelas falas da filha de Bob Jeff, ela precisa urgentemente de um curso de oratória. Ou pelo menos conversar com algum assessor de imprensa. Procurar um profissional competente seria útil para muitas coisas. Ela não gravaria aquele depoimento pavoroso da semana passada, por exemplo. 

Aliás, vemos que a necessidade de assessoria vem de longe. Ela tem que saber que conversas como a que teve em 2014 com assessores são um  convite ao vazamento. Ter esse tipo de papo com a equipe é de uma imprudência limítrofe à burrice.  

A indicada para o Ministério do Trabalho disse em 2014 que a única forma de manter o emprego dos assessores era se eleger. Na minha opinião, a fala soa menos como ameaça e mais como tática idiota de motivação. 

Cristiane fez como um gestor de instituição privada que se dirige à equipe e diz: “se a empresa fechar, vocês vão perder os empregos. Então, trabalhem sem aumento e sem hora extra”.  

O problema é que Cristiane Brasil usou essa lógica tosca com dinheiro público. Os assessores foram contratados para um serviço público, não para um projeto particular. 

Gravada in natura, Cristiane Brasil mostra a lógica perversa da política, ao dizer que no meio só tem valor quem tem mandato. E nessa ciranda de apadrinhamentos e negociações, técnicos são deixados de lado em cargos públicos, aumentando a ineficiência da máquina estatal.

A deputada foi vítima de um fogo amigo. Aliás, ao que parece, ela não conseguiu blindar seu caminho contra esse tipo de golpe. Não pagou direitos trabalhistas a funcionários e fez uma reunião de trabalho que foi quase um assédio coletivo. Esses casos também põem em dúvida sua capacidade de gerir pessoas. Pois os casos nasceram de relações de trabalho mal resolvidas.

No entanto, a deputada tem mais um esqueleto para explicar. Sua votação expressiva em Cavalcanti. Segundo denúncias, ela teria “comprado” de traficantes a exclusividade para fazer campanha eleitoral. 

Em 2005, Roberto Jefferson decidiu colocar farofa no ventilador e entregou o mensalão. Quem sabe sua filha não seja a ponta de lança para desvendar essas obscuras relações entre políticos e os “donos” de alguns currais no Rio de Janeiro? 

Talvez nunca se prove nada contra Cristiane Brasil, mas seria interessante se a polícia investigasse os mapas de votação em outras áreas dominadas por traficantes e milicianos. Possivelmente encontraríamos casos semelhantes ao da deputada. 

Qual a contrapartida é oferecida por estes políticos depois de eleitos? No cinema a gente já viu que é proteção e vista grossa. E na vida real? 


Minha dúvida é a seguinte: Michel Temer não desistiu de Cristiane para o Ministério do Trabalho pra marcar posição contra o judiciário, ou por ser refém de Roberto Jefferson? Talvez pelos dois motivos. Que governo com vocação para se meter em crise!

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