domingo, 18 de fevereiro de 2018

Império, volte logo e relembre a tradição do samba






Ontem as grandes campeãs do carnaval voltaram à Marquês de Sapucaí para o desfile comemorativo. Isso me fez lembrar de como começou minha relação com esse mundo. Não me tornei um profundo conhecedor, apesar de ter ido mais de 10 vezes aos desfiles. Tenho mais uma relação afetiva/amadora do que profissional. Este ano, por não estar envolvido diretamente na cobertura, não me aprofundei previamente. Sabia dos enredos polêmicos e do tom que a Mangueira daria à sua passagem, por exemplo. Mas tinha uma coisa boa. O Império Serrano estava de volta, e só por isso, já valeria assistir aos desfiles. 

O primeiro samba que me “pegou pelo ouvido” foi Bumbum-paticumbum-prugurundum. Eu tinha de 10 para 11 anos e a melodia me marcou. Engraçado, até hoje quando canto algum trecho do samba, ainda me dá um nó na garganta. Talvez porque a música me garanta a entrada numa máquina do tempo.

Depois fui ficando “maiorzinho”, como se dizia na minha época, e fui aprendendo outros sambas. Mas os do Império tinham um lugar especial. Berço de Heróis, Lenda das Sereias e o inigualável Aquarela Brasileira. 

Não sou especialista em carnaval para entender quando a ruína da escola da Serrinha começou. Por serviços prestados ao bom samba, o Império deveria ter lugar cativo na elite do carnaval.

Mas a “força da grana que ergue e destrói coisas belas” está ausente da agremiação há algum tempo. Se o enredo campeão de 82 criticava a Super-Escolas de Samba S.A. em quase quatro décadas o fenômeno só piorou. Até a rival Portela andou distante do “clube”, só retornando às vitórias no ano passado.   

O Império é uma espécie de “América” do samba. A segunda escola de quem acompanha o carnaval. Se existe animosidade de alguns torcedores com a Beija-Flor (a grande representante das Super Escolas de Samba S.A.) e com a Mangueira, com o Império há um olhar condescendente.

O "sarrafo" na Avenida é muito alto.  No entanto, a queda de investimentos provocada pela crise nivelou as escolas por baixo. Esta seria uma chance para o Império se manter na elite. Mas nem assim a escola conseguiu recursos para fazer um desfile que lhe garantisse a permanência entre as grandes. Ficar no Grupo Especial poderia melhorar os combalidos cofres da escola.   

Diferentemente do futebol, em que tenho uma “religião”, no carnaval sou volúvel. Isso facilita meu julgamento. Apaixono-me por escolas diferentes a cada desfile. 

Mas quando se trata do Império, tenho um carinho especial. Torço para que ele continue vivo. Vejo a escola como um símbolo, um baluarte. Pena, isso não “dá camisa”. A escola era muito mais pobre que as rivais e o último lugar foi justo. 

E lá vão meus inúmeros amigos imperianos se resignar, orgulhosos pela tradição, mas tristes com a realidade. Que a escola que deu ao samba Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara, Mano Décio da Viola entre outros, não demore tanto para voltar. 

O carnaval precisa do espírito imperiano para enfeitar os corações numa maravilha de cenário. Que seja um "até breve" ao Grupo Especial. 


                                                                               ***
Uma das fantasias-símbolo do carnaval, o Vampiro Neolibeeralista, da Paraíso do Tuiuti, não foi para o desfile das campeãs completa. A escola retirou a faixa presidencial. Decepcionou os novos fãs da escola. A TV Brasil transmitiu a festa. Será que houve auto-censura, ou foi uma condição imposta pelo governo Temer, pela TV detentora dos direitos ou pela Liesa? A liberdade de expressão levou mais um golpe. Só para dar um exemplo do absurdo, no século XIX, o imperador Pedro II não censurava os opositores, nem as charges que saíam sobre ele nos jornais. Há dois séculos havia o poder moderador, agora existe o poder econômico. Qual deles causou mais estragos?   

Nenhum comentário:

Postar um comentário