segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Mangueira, Tuiuti e São Clemente ensinam: pecado é não pensar no carnaval





A Paraíso do Tuiuti fez um carnaval corajoso. Não é fácil falar de escravidão, exclusão e desigualdade num país em que um dos principais candidatos à Presidência diz que em seu eventual governo os índios não ganharão mais um centímetro de terra. 

A escola de São Cristóvão foi explícita. Estou tentando lembrar nos últimos 30 anos alguma agremiação que tenha sido tão direta numa crítica ao presidente da República. A Tuiuti entendeu que nos nossos tempos é melhor tomar posição, não cair no discurso fácil de que o país está melhorando. 

Nos 130 anos da Lei Áurea o que se encontra é um país em que as pessoas presas e a população nas áreas mais pobres são predominantemente negras. O negro estuda menos, ganha menos, apanha mais e morre mais cedo.  Numa festa que embranqueceu, a Tuiuti resolveu incomodar. Dificilmente a escola ganhará o carnaval, mas o recado do “vampiro” no último carro foi dado. 

A Mangueira, tida no mundo do samba como “madrinha” da Tuiuti, também foi direta. Desta vez contra o prefeito. Gente muito mais gabaritada para falar de carnaval disse que o desfile da Mangueira foi épico. 

A Estação Primeira atacou o prefeito mais odiado dos últimos 30 anos: “pecado é não brincar o carnaval”. A Liesa é uma entidade política, que sempre soube contemporizar externamente e entre os seus, vide a virada de mesa do ano passado. Não sei se a crítica tão explícita ao prefeito, que mal ou bem ainda dá algum dinheiro aos desfiles, será premiada. 

Além disso, a Mangueira terá que contar com a boa vontade dos jurados. A ala de foliões vestidos cada qual com um figurino, para representar os blocos da cidade pode ser original, mas tem chance de provocar perda de pontos importantes no quesito fantasia. 

Achei o protesto da Mangueira necessário, mas movido por certo corporativismo, pela mágoa com um prefeito que deu a entender que continuaria apoiando o carnaval. A Liesa caiu no conto do vigário, ou melhor, do bispo. Desde o segundo mês de administração, Marcelo Crivella mostrou que não teria boa vontade com os desfiles. O enredo da Tuiuti foi mais abrangente do que o da “madrinha” neste aspecto. 

Quero fazer uma menção à São Clemente. Ao lembrar os 200 anos da Escola de Belas artes, trouxe uma alegoria que mostrava o prédio da EBA chamuscado pelo incêndio que o atingiu. 

Dois anos depois do acidente nada foi feito. É uma prova de como tratamos a cultura no país. A corte luso-brasileira entendia a importância da arte e da necessidade de subvenção para realiza-la. Já o Governo Federal vive minando o ensino público superior e sucateando as universidades. Sofre a Escola de Belas Artes da UFRJ, mas sofre sobretudo o Brasil. Temos um governo que não estimula a pesquisa e promove uma fuga de cérebros do país. 

E ainda tem gente que não quer participar do carnaval porque é uma festa pagã com gente bonita desnuda na avenida e nos blocos...

Pecado é não pensar no carnaval. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário