segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O frio na barriga nosso de cada dia








“Navegar é preciso, viver não é preciso”. É melhor desenvolver o resto do texto antes que eu seja acusado de plágio. Quando li esta frase de Fernando Pessoa pela primeira vez, demorei a entender o duplo sentido da palavra “preciso”. 

Não saquei de primeira que não se tratava de alguém com desprezo pela vida e sim, um sábio que entendia as imperfeições do mar, muitas vezes metáforas da vida. 

Em muitos momentos você trava prestes a fazer algo que faz parte da sua rotina há tempos. Afastado da apresentação de um programa por cerca de um ano, fui mediar um bate-papo. 

Tudo certo. Conhecia o assunto e estava preparado. Na hora de começar, um pigarro insistente se instalou na garganta. As palavras demoraram a vir mais do que o habitual. 

Se eu estivesse com os batimentos cardíacos monitorados, como se fazia antigamente no Big Brother, eles registrariam um ritmo mais acelerado. 

Acho que só normalizei a cadência aos “15 minutos do primeiro tempo”. Depois senti que estava no meu lugar. 

Sinto a mesma coisa quando começa o período letivo na universidade. Principalmente no primeiro semestre do ano, por causa das férias mais compridas. 

Férias são uma benção, mas tiram o ritmo do professor. Então, até você tomar conta da situação, rola pelo menos uma semana de aula. 

Além da falta de ritmo, começar o semestre é sempre um desafio por causa do contato com os alunos. Você precisa reconstruir a relação com eles todo período. 

O bom relacionamento com a os alunos do período anterior serve de referência para quem chega, mas o relacionamento com cada turma é único. Tem uma dinâmica própria. 

Com o tempo você percebe o tipo de assunto que facilita o encontro com suas almas. Tem turma que gosta de falar sobre política, outras querem falar de filmes. Alguns grupos gostam de assuntos tipo “sofá da Oprah” (roubei o termo da minha amiga Tatiana Siciliano). 

No entanto, as incertezas, o frio na barriga e o temor de não acertar temperam as vitórias. O segredo é transformar em impulso e não em obstáculo. 

Quando tudo está fácil demais, tem alguma coisa errada acontecendo. A vida é mais feita de perguntas do que respostas. O desconforto faz a gente combater a acomodação. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário