quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

CBN X Bandnews: a origem da disputa






Vinte de maio de 2005. Eu recebera uma missão naquela manhã. Ouvir a programação da Bandnews. A emissora começara suas transmissões naquele dia e a CBN ganharia uma concorrente. Do outro lado daquela “trincheira” havia várias pessoas queridas, como por exemplo, o jornalista Mauro Silveira, responsável pela equipe no Rio. Logo no começo do programa local, a repórter Vanessa Freitas, uma dessas pessoas queridas, entrou da porta de um hospital público com uma entrevistada. A mulher acabara de ter um problema na unidade. Ouvintes no ar e Ricardo Boechat interagindo com a repórter...

A direção nos reuniu e falou: aquela rádio não era concorrência. A CBN não queria fazer aquele tipo de radiojornalismo. Realmente, era outra pegada.

Estavam delimitadas ali, em 10 minutos de programação as diferenças entre a CBN e Bandnews. Uma teria uma veia mais popular e outra continuaria com um sua linha mais tradicional. 

Para mim há um jeito esquemático, alguns poderiam dizer pobre, para separar as duas emissoras: a CBN segue uma linha mais clássica, ao passo que a Bandnews faz um radiojornalismo de “rede social”. 

Enquanto a CBN “vende” credibilidade, a Bandnews “vende” velocidade. No jornalismo, como na vida, tudo depende do acordo estabelecido com o outro. 

Quem ouve a CBN confia que uma vez dada no ar, a informação não será desmentida. Quem busca a Bandnews espera ser informado o mais rapidamente possível sobre o que está acontecendo. Se por um acaso a notícia não estiver correta, os repórteres da Band corrigem e tocam o barco. Vale a rapidez da informação. 

Outro aspecto que diferencia as duas é a participação dos ouvintes. A Bandnews criou uma rede de informantes, que entram no ar e fazem flashes longos, quase como se fossem repórteres da casa. O ouvinte se identifica com a emissora. A Bandnews é mais ágil e dá mais espaço ao local.

Já na CBN, o ouvinte é fonte, mas suas informações precisam de confirmação. No caso da escola Tasso da Silveira, em Realengo, quando um homem matou 12 estudantes, a Bandnews deu a informação mais rápido do que a CBN. Um pai, que tinha um filho na escola, era ouvinte do Ricardo Boechat, ligou pra lá e contou o que estava acontecendo. 

O que nasceu por um problema estrutural, a Bandnews não ter o número de repórteres da CBN, acabou se tornando o grande trunfo da emissora dos Saad. Os ouvintes formam um exército de olhos e ouvidos para a Bandnews.  

A emissora conseguiu outra arma importante nesta batalha: Ricardo Boechat. Ele parece o líder carismático de um movimento popular. Jornalista dos bons, cheio de fontes e informações, emprestou um carisma de rádio popular a um segmento careta por natureza. 

Boechat tem um estilo combativo que foi o grande fator de desequilíbrio na disputa de audiência na praça Rio de Janeiro entre CBN e Bandnews.

A emissora da Rua do Russel teve durante 10 anos Sidney Rezende como âncora do CBN Rio. Nos 3 anos em que enfrentou Ricardo Boechat, Sidney não perdeu. No entanto, em outubro de 2008 foi demitido da emissora; De lá para cá, a CBN tentou vários âncoras. Todos excelentes profissionais, contudo, a instabilidade do “cargo” pesou. Foram 8 âncoras em 9 anos. Essa rotatividade não é boa quando se briga pela audiência. Rádio é hábito, por mais que se queira reinventar essa sentença. É bom que se diga que o interesse da CBN por audiência é recente. Na praça Rio importava a qualidade das matérias e o prestígio. Números de Ibope interessavam às outras emissoras do SGR (Globo e Beat 98).

Boechat desequilibra o jogo por fazer uma rádio na fronteira dos segmentos popular e news. Além disso, com seu perfil combativo pode herdar alguns dos ouvintes que ficaram órfãos de Roberto Canazio, agora apresentando programa apenas aos domingos na Rádio Globo.

A sinergia, um termo muito em voga nos ambientes de gestão empresarial, é outro ponto favorável à Band nesta luta. Ricardo Boechat concentra os papéis de principal âncora da TV e da Rádio, tornando-se uma marca, principalmente nas manhãs do Rio.

A Bandnews pode herdar os ouvintes que eram da Rádio Globo e decidiram não seguir a Tupi. Acho que a emissora dos Saad deveria seguir firme numa proposta de ampliar seu público de classe C, mais popular. Procurando âncoras que pudessem fazer esse papel combativo que o Boechat já faz de manhã.

A CBN fez uma aposta na prata da casa. Bianca Santos e Frederico Goulart são novos talentos. Profissionais competentes. Não se deve esperar deles, por enquanto, vencer Ricardo Boechat no Ibope. Acho inclusive, não ser essa a proposta.


Como jornalista, militando há 20 anos no rádio, não tenho preferência por nenhum dos dois modelos, apesar de ter me formado na “escola” CBN. Acho que o mercado do Rio só tem a ganhar com CBN e Bandnews fortes. Espero que a força delas represente mais postos de trabalho. Apesar das evidências não serem estas. Mas enquanto há vida, há esperança.

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