sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Numa mesa de bar com o cantor Ruy Faria







Em 1994 o MPB-4 fazia uma temporada no People, casa noturna na Avenida Bartolomeu Mitre, no Leblon. 

O People era um casa em que cabiam 200 pessoas. Olhando agora, acho que o palco ficava numa posição esquisita, pois dependendo da mesa, quem assistia ao show via o artista de costas. 

No entanto, em charme, o People era imbatível. Sobre o People escreverei em outro post. Hoje quero me lembrar da temporada do MPB-4. 

O grupo vocal faz parte da história da música brasileira. A parceria com Chico Buarque em Roda Viva não perdeu o brilho mesmo passados mais de 50 anos da primeira gravação. Adoro conjuntos vocais e o MPB-$ e o Boca Livre são os meus preferidos.

Eu era assistente de produção do People e regulava em idade com o João, filho do Ruy, e com o baterista do MPB-4, o Marcos, filho do Miltinho. A resenha após os shows era impagável. Em algumas oportunidades, o Ruy se juntava às nossas conversas. 

Agora vou ter um ataque de nostalgia. O Rio era outro. A gente saía do People na Bartolomeu Mitre andava até o Real Astoria, o Jobi (primeira versão). ou ia na Pizzaria Guanabara. Nossa, parece que foi em outra vida. A noite era uma adolescente insone e aos 23 anos eu era um boêmio. O problema é que não trocava o dia pela noite como manda o manual do boemia. Eu estudava e então. dormia quando dava. 

Numa dessas esticadas após o show, o Ruy Faria foi com a gente. As histórias que o cara tinha para contar eram sensacionais. Ruy, vou tomar a liberdade de falar uma delas. 

Um dos grandes sucessos do MPB-4 é Amigo é pra essas coisas. O Ruy, falecido nesta quinta-feira aos 80 anos, contou que numa ocasião, durante uma temporada no interior, ele e outro integrante do grupo foram a um bar após o show. 

A noite já ia adiantada, quando os convivas pediram que os dois integrantes do MPB-4 cantassem o sucesso. 

Os dois não se fizeram de rogados e foram ao palco improvisado. A música começou e eles descobriram, constrangidos, que só sabiam a parte deles, ou seja, metade da música não poderia ser cantada. 

Ruy contava essa história com muito bom humor. O que poderia ser contabilizado na coluna das vergonhas era tratado como mais um passo engraçado, numa trajetória de pleno êxito. 

Gostaria imensamente de dizer que era amigo do Ruy, infelizmente não seria verdade. No entanto, tenho um orgulho danado de ter compartilhado uma boa resenha e dado muitas gargalhadas com o cantor. 

Ruy, a melhor forma de homenagear um cantor que se vai é eternizar sua voz. Citei duas canções do repertório do MPB-4 que eu adoro, mas a minha preferida é A Lua. 

Mente quem diz que a Lua é velha e que acha que artistas morrem. 


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