terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Reinaldo Rueda foi um moleque







O caso da saída do treinador do Flamengo fala muito mais do caráter humano do que de futebol. Para quem não acompanhou, logo após a derrota do time na final da Copa Sul-Americana, no dia 13 de dezembro, o treinador colombiano Reinaldo Rueda disse que permaneceria no Rubro-Negro em 2018. 

Viajou e foi gozar suas merecidas férias. Na última semana do ano começaram as especulações de que a seleção do Chile o contrataria. A questão não estava fechada. Dependia do valor da multa rescisória de Rueda. Em janeiro ela cairia de valor e a federação chilena o contratou. Confirmando todas as especulações. 

No dia marcado para se reapresentar, Reinaldo Rueda desembarcou no Rio e foi capaz de responder aos jornalistas que as notícias do acordo com os chilenos eram precipitados. 

Aos 60 anos, Reinaldo Rueda agiu como um moleque. Ou seja, é a confirmação de uma frase que aprendi. A idade não melhora ninguém, apenas agrava os “sintomas”. O treinador teve uma conduta antiética. Ao ser perguntado pelo seu empregador, no caso o Flamengo, mentiu deslavadamente. Até no “gran finale” da canalhice, ele agiu com tibieza. Não foi honesto, demorou a se apresentar e enfrentar logo a situação. 

Diante deste comportamento, é possível deduzir o motivo pelo qual ele nunca foi unanimidade entre os jogadores. O técnico colombiano mostrou-se um líder fraco e com alguns problemas de caráter. Mentir desta forma tira toda simpatia angariada quando abriu mão de disputar o título da Sul-Americana com a Chapecoense, em 2016, logo após a tragédia. 

Cobra-se muita ética dos dirigentes no futebol, mas é necessário que todos os personagens do esporte ajam com correção. As pessoas que militam insistem na tese furada que futebol tem ética própria. Falácia! Futebol é parte integrante da cultura de um povo, logo deve prezar pela ética, sim. 

Então, mandar o jogador cair antes de ser substituído é antiético. Retardar tiro de meta é antiético, simular faltas é antiético. Não é malandragem, na verdade é cafajestagem. 

Os atos de violência da torcida do Flamengo na decisão da Sul-Americana foram corretamente condenados. No entanto, eles são parte de um contexto. Uma realidade paralela que para ganhar vale fazer gol impedido, fingir que foi agredido. O tal espírito do “roubado é mais gostoso”. 

“Futebol é assim mesmo”, “você nunca jogou bola profissionalmente”. Essas são algumas das frases usadas para justificar esse universo paralelo que insistem em colocar o futebol. 

É o mesmo universo paralelo de quem relativiza a corrupção na política. “Sempre foi assim”, “se não fizesse caixa 2, não se elegeria”. A corrupção se encontra na semântica, troque as palavras, mas o sentido é o mesmo. 

O Fluminense atrasou os pagamentos de Gustavo Scarpa. O jogador está correto em cobrar os atrasados na justiça. No entanto, foi moleque ao sumir. Ao fugir de uma negociação, de olhar nos olhos e tratar o assunto de forma honrada. 

Reinaldo Rueda foi um moleque, mesmo aos 60 anos. Foi desrespeitoso com um clube que o empregava e com um grupo de jogadores que liderava. Ele é produto de uma cultura que relativiza as ações fora da ética. 

Fui interpelado no Facebook por defender esse ponto de vista. Vamos lá: não gosto de ganhar com gol irregular. Não acho roubado mais gostoso. Fico chateado quando constato que meu time ganhou num erro de arbitragem. Fiquei indignado com o gol do Jô contra o Vasco. Na primeira final contra o Cruzeiro o gol do Paquetá foi em impedimento. Postei na hora. Não gosto de ganhar roubado e ensino isso aos meus filhos. Ética não é elástica. Ela deve ser exercida na profissão, nos relacionamentos, no lazer, ou seja, em todos os campos. 

“Então, Creso, você não erra”? Erro muito, erro tanto quanto qualquer ser humano, mas procuro não insistir nos erros. Os ídolos do esporte ensinam aos jovens cortes de cabelo, roupas e posturas. São super-heróis da vida real. Logo, quem admira o Reinaldo Rueda ou o Gustavo Scarpa pode achar que eles agiram certo. Não, eles foram desrespeitosos. Por mais direitos que tenham, não poderiam ter agido como fizeram. O colombiano errou ao mentir. O camisa 10 das Laranjeiras escorregou feio ao sumir. 


Independentemente da idade, o futebol está moleque no mau sentido. 

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