domingo, 21 de janeiro de 2018

Diário de bordo: uma defesa ao jornalismo


Quinta-feira chega às telas brasileiras The Post - A guerra secreta- de Steven Spielberg. O filme trata de um episódio que ficou conhecido como os papéis do Pentágono e conta a luta  que a dona do The Washington Post, Katharine Graham, e o editor chefe do jornal, Ben Bradlee, travam com a Casa Branca para divulgar documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã. 

Spielberg deixa claro que o filme faz paralelos com a realidade atual dos EUA, quando Donald Trump tenta de todas as formas atormentar e censurar o trabalho da imprensa livre, sendo um ícone no uso das notícias falsas na internet.  

O filme mostra a importância de um jornalismo sério, preocupado com um bem maior que é a pluralidade de informações e a transparência. 

Apesar das inúmeras plataformas de divulgação de conteúdo, não inventaram nada melhor do que o jornalismo para contar a história dos nossos loucos tempos. 

Jornalismo, aquele ofício que dá um trabalho danado, que requer esforço, sacrifício e devoção. Um trabalho difícil que muitas vezes é menosprezado e até vilipendiado. “Jornalista é um fofoqueiro” e “A culpa é da imprensa” são algumas das sentenças empregadas pelos que se sentem incomodados com o trabalho desempenhado nas redações físicas (cada vez menores) e virtuais. 

Uma grande questão dos nossos dias é a pouca disposição em pagar para receber notícias, pois as redes sociais suprem o desejo por informação. Torresmo, bacon e feijoada matam a fome. No entanto, consumidos em excesso, entopem as veias. Esse jornalismo de notícias falsas entope as veias da democracia e da liberdade de expressão. 

Jornalismo é buscar o contraditório, é ser chato na aventura de colocar luz onde se quer a escuridão a todo custo. Jornalismo é feito com curiosidade e técnica. 

Isso diferencia um jornalista profissional de um colaborador jornalístico. Não dá para ser “repórter por um dia”. Repórter é repórter o dia inteiro, todos os dias. 

O jornalismo é um sacerdócio, com privações e dificuldades. Jornalismo é encontrar portas fechadas e telefones ocupados e fora de área. E mesmo diante disso saber o que ocorreu dentro da sala e o que falaram ao telefone. 

Sem o jornalismo jamais saberíamos o que ocorre nessas reuniões de portas fechadas. Jornalistas escrevem o evangelho dos nossos dias. Já repeti essa frase tantas vezes, mas ela continua a me valer quando vejo a profissão depreciada. 

A atitude do Facebook de pedir que usuários listem sites confiáveis pode ter dois efeitos opostos. O primeiro, valorizar os grandes veículos que fazem o chamado jornalismo tradicional. O outro, que para mim é o mais provável, fazer com que incontáveis sites que fazem mau jornalismo proliferem e abafem os veículos “profissionais”. 

Não sou ingênuo, as corporações jornalísticas tem seus interesses, minha defesa não é a dos veículos tradicionais. Minha defesa é a do jornalismo profissional. 

Por viver disso, o jornalista profissional tem noção das consequências do seu ofício. O jornalismo morre um pouco quando alguém acha que é jornalista porque tirou uma foto e postou no Instagram. O jornalismo é ferido de morte quando os donos de veículos trocam mão-de-obra especializada pelo “olhar de repórter” do espectador, do leitor e do ouvinte. Depois, não podemos reclamar da perda de relevância da profissão. 

A intolerância vem de não compreendermos o papel do outro. Supervalorizamos o que fazemos e achamos extremamente fácil o que a outra pessoa faz. 

Essa história de que todo mundo é jornalista me lembrou uma passagem do filme Os incríveis. O vilão, Síndrome, faz armas para que todos virem super- heróis. E num momento deixa explícita sua intenção: “se todos forem super-heróis, não existirão mais super-heróis...” 



Nenhum comentário:

Postar um comentário