quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Vamos falar de Urticária Crônica Espontânea. Conhece? Eu também não conhecia








Os males da alma levam muitas vezes ao padecimento físico. Não se trata apenas da ideia romântica dos poetas do “mal do século”. Apesar de muitas coisas poderem ser realmente creditadas a esses males, há doenças que surgem do “nada”. É o caso da Urticária Crônica Espontânea. 

Se você não sofre da doença ou não é profissional da saúde, provavelmente não ouviu falar dela. Tenho uma grande amiga que sofre com esse mal. Eu era como a maioria, nunca tinha ouvido falar. Auxiliado pelas informações dessa amiga, vou escrever sobre a UCE. Primeiro é preciso explicar cada termo usado para identificar a enfermidade. A urticária aparece em forma de placas, vermelhidão e manchas. Geralmente é acompanhada de coceira. A palavra crônica é uma definição médica explicando que a manifestação se dá num período igual ou maior do que seis semanas. A doença leva o nome de espontânea porque o surgimento da urticária não tem relação com fatores como frio, calor ou estresse, ela aparece “do nada”. 

Agora que está devidamente apresentada, é importante falar que a Urticária Crônica atinge um número entre 0,5 a 1% da população. Desses, 2/3 são do tipo espontâneo. 

Em minha amiga as primeiras manifestações surgiram em 1998, quando pouca informação havia sobre o assunto. 

Ela conta que até que se chegasse ao diagnóstico, foram várias as explicações: “É emocional”, “bota a raiva pra fora”. E para piorar os sintomas, mais um ingrediente: a culpa por estar provocando a doença em si mesma. 

O sofrimento era grande e o alívio veio com o uso de corticoides. No entanto, os efeitos colaterais destes medicamentos são péssimos. Só para citar alguns, podemos falar de aumento de peso e instabilidade emocional. 

Assim como veio, a urticária se foi. Nas palavras de minha amiga: “Foram 16 felizes anos em que a doença esqueceu de mim e eu me esqueci dela”. 

Abro espaço para que minha amiga fale do drama da volta da doença, não conseguiria contar melhor do que a própria personagem: “Nesse tempo vivi, progredi profissionalmente, criei meus filhos e cuidei do meu casamento. No entanto, há 4 anos minha velha conhecida resolveu me visitar. Sem convite, ela invadiu a minha vida e a da minha família, tornando-se o fantasma das noites que passo em claro, com o corpo ardendo e coçando até sangrar, e a carcereira dos dias em que, com o rosto deformado pelo angioedema, não posso sair de casa”. 

Quando o desespero tomava conta de minha amiga novamente, uma médica pesquisadora lhe apresentou um remédio chamado Xolair. 

Só tem um problema: o medicamento custa R$ 5 mil por mês. Minha amiga recorreu ao plano de saúde. Só que ela teve a desagradável surpresa de descobrir que a UCE não faz parte do rol de doenças reconhecidas pela Agência Nacional de Saúde, mesmo atingindo cerca de 1% da população, ou seja, cerca dois milhões de brasileiros. 

Apesar de não existir oficialmente, a UCE é bem presente na vida de quem tem. Com sacrifício, minha amiga consegue fazer o tratamento. No entanto, fico pensando nos milhões de pessoas que sofrem de Urticária Crônica Espontânea e não sabem que têm tampouco como tratar ou pagar esse tratamento. 

Nesta terça-feira os planos de saúde passaram a cobrir 18 novos procedimentos. No entanto, ainda não chegou a vez da UCE. Minha amiga pensa em fazer uma fundação para ajudar quem tem a doença. Que ela ganhe força para vencer sua luta e que a ANS reconheça a doença e obrigue as operadoras a financiar o tratamento. 


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