sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Por uma defesa do jornalismo II







Uma amiga me disse que está muito angustiada com a situação do Rio. Ela segue uma página no Facebook sobre o seu bairro e relatou que fica apavorada com a situação de violência. 

Ouvi seu lamento e dei um conselho: "Não veja a página". O leitor desavisado vai me chamar de alienado. Que estou “tirando o sofá da sala” e colocando uma “lente cor de rosa”. 

A esses leitores, peço compreensão e um tempo para que eu defenda meu ponto de vista. A cidade tem milhões de habitantes. Estamos em tempos loucos, em que as pessoas querem andar armadas, não dão bom dia, não pedem por favor ou agradecem. Diante dessa realidade, é tristemente natural pequenos conflitos, pequenos furtos e alguns fatos lamentáveis. 

Essas páginas tipo Conchinchina agora, Caia Prego agora e que tais colocam uma lente de aumento nesta realidade. Surgidas como um alerta aos moradores, correm risco de se transformar em fiéis depositárias de nossos medos. 

Numa ocasião estava no carro da emissora que eu trabalhava. Um motorista proativo ligou para a redação e disse que a Presidente Vargas estava toda engarrafada. Na verdade,  a nossa faixa estava engarrafada. Tinha acontecido uma pequena batida, passando dali, tudo ia bem. 

Este exemplo prosaico é para dizer que uma visão parcial e imediata pode resultar num relato assustador. Então, como em tudo na vida, temos que ter discernimento e bom senso na hora de ler essas páginas. 

Não quero brincar de contente e ter uma visão “Pollyana” da realidade carioca. Da janela da minha casa, nesta seta-feira,  contei 8 carros do Bope num comboio pela Zona Sul. Andar pela cidade mostra que o Rio precisa de cuidados. A Rocinha parece sangrar incuravelmente numa sequência de fatos violentos. 

No entanto, as mensagens por WhatsApp, ou as páginas feitas no Facebook alarmam e não apenas alertam os seguidores. Lembro que na época da invasão no Alemão, o Jornal Extra criou uma sessão É boato ou é verdade, tal o número de informações desencontradas e falsas que circulavam pela cidade. 

De domingo para cá escrevi  seis textos, dos quais três foram sobre o cuidado que se deve ter na divulgação das notícias. Precisamos de critérios. Fontes idôneas, bom senso e responsabilidade. 

Notícias desencontradas só acirram os ânimos, temperam nossa doença social com doses de medo e intolerância. E passamos a defender o “justiçamento” em detrimento da temperança da justiça.

Todo o assunto deve ser abordado, não há temas proibidos, no entanto, eles todos devem ter contextualização. Por isso, com medo de parecer repetitivo, defendo o jornalismo feito por profissionais. 

Aqui sim, posso estar sendo “Pollyana”, mas acredito que não chegamos ao fundo do poço, ou  que caminhamos para o fim, tal o grau de violência e degradação. Acho que o caminhar do mundo é cíclico. Hoje podemos ter a impressão de uma noite sem fim, mas amanhã, o sol teimará em nascer e outra alvorada vai renovar nossas esperanças. 

A cidade está numa fase ruim? Está.  Nosso prefeito parece mais preocupado com a função que sempre teve, em vez de gerir a cidade? Parece. No entanto o Rio já sobreviveu a tantas coisas, vai passar por mais esta. 


Pense nas ressacas que você teve e está aqui lendo este texto. A batida é essa. Como cantava Elis Regina: “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.

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