segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Dar exemplo aos filhos


Há mais de dez anos ouvi a frase na visita a uma dentista. Ela disse que deveríamos pensar cuidadosamente no que nossos filhos comem, já que modificar hábitos alimentares é mais difícil do que parar de fumar. 

Meus filhos não são gordos. É só se manterão assim se tiverem um exemplo próximo para seguir. Transmite-se ao filhos o que é bom e o que é ruim. Eles escolherão por afinidade ou repulsa o que vão imitar. Mas a danada da comida em excesso não é recriminada como o cigarro e a bebida. 

Se o filho de 14 anos toma um copo de cerveja ou põe um cigarro na boca, certamente haverá algum tipo de repreensão. Mas se comer demais no rodízio, brinca-se, diz-se que é um “fenômeno”, que comer faz bem, ruim seria se não comesse. Aliás, levar os filhos a um rodízio já é uma heresia.

Comer em excesso é tão ruim quanto não comer. A explicação é óbvia. São dois extremos e extremos são excessos. 

Dentre os inúmeros padrões de comportamento que tenho andado preocupado em transmitir para os meus filhos é o da alimentação. Sou exemplo muito ruim neste campo, infelizmente.

Sentar à mesa numa churrascaria para mim traz alegrias e angústias quase na mesma proporção. Primeiro, o privilégio de ter comida no prato. Esquecer-se que há milhões de pessoas que não têm esse direito básico obscurece a vida. Meus delírios alimentares só aumentam naquela profusão de costelinhas, cupins, picanhas, linguiças e etc. 

Com meia hora de “jogo” começa a fase da angústia. A carne vem, sei que não devo comer, mas continuo. Ao fim do “primeiro tempo”, já comi mais carne do que qualquer comensal. 

Qual seria a melhor opção? Pedir “pra sair”, dar um tempo, reconhecer o excesso. Eu consigo resistir à primeira, à segunda, à terceira rodada de espetos, mas aí vem o garçom com a costela de boi no carrinho... Não tem jeito, recomeço a sanha frenética.  Nunca termina bem. Engordar faz com que meu fôlego diminua e minha lombar fique sobrecarregada. 

Acabo de encerrar uma bateria de 20 sessões de fisioterapia por causa da sobrecarga na minha coluna. Então essa questão de comer o necessário está deixando de ser uma necessidade utópica. Na prática, preciso fazer algo. 

Não bebo, não fumo, mas como muito. Preciso encontrar em mim a fronteira do que é fome e do que é gula.  A frase que se ouvia na quinta série “comer muito não significa comer bem” saiu dos livros escolares e se materializa nas taxas sanguíneas de um homem que caminha para a meia idade.

Talvez comer em excesso esteja ligado ao desenfreado consumo de nossos dias. Compramos muitos sapatos, muitas calças e muitos carros. Comemos muitos bifes...  

Acho que meu ciclo em churrascarias acabou.


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