terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O julgamento e as cartas na mesa





Advogados reunidos, plateia apreensiva, o clima de suspense parece exalar pela tela e contaminar todos os espectadores. O julgamento do personagem de Gloria Pires mobilizou todas as atenções na noite de terça-feira. A personagem fez uma revelação importantíssima para o desenrolar da trama, desmaiou e o julgamento foi suspenso.

É possível que já esteja em curso na Internet alguma teoria da conspiração. Houve uma coincidência de datas entre o julgamento da novela O Outro Lado do Paraíso e o do ex-presidente Lula, pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região, em Porto Alegre.

Eu acredito em coincidência, para não contribuir com os “conspiradores”. Mesmo assim, há alguns paralelos que podemos estabelecer entre o julgamento da ficção e o da vida real.

O mais evidente: são duas novelas. Mocinhos e vilões estarão frente a frente. O engraçado é que dependendo de quem está olhando, os dois lados se revezam nestes papéis.

O julgamento da novela não acabou. A personagem teve uma isquemia e a sessão foi suspensa antes que a sentença fosse proferida. Isso aproxima a arte da vida. Independentemente do que acontecer no TRF-4, o enredo da novela Lula vai continuar. Ainda cabe uma infinidade de recursos.

Duda não sairá incólume de seus erros na novela. Terá que administrar a frustração de uma filha abandonada. Lula, provavelmente, perderá o julgamento de seu recurso e os desembargadores gaúchos devem manter a sentença do juiz Sergio Moro que o condenou a 9 anos e meio de prisão no caso do tríplex do Guarujá.

Defesa e acusação têm argumentos que acham invencíveis na discussão. O que torna o julgamento de Porto Alegre um julgamento político, por mais que os magistrados queiram passar a ideia de uma sessão estritamente  jurídica.
Na novela estava em julgamento a dona de um bordel, acusada de assassinato. Em Porto Alegre estará o presidente mais popular do Brasil nos últimos 50 anos. A madeira do banco dos réus deve estar até envergada, tal o peso histórico de quem a ocupa.

Vivemos um momento em que pouco importa o que a justiça decidir. Os dois lados estão convictos de suas ideias. Caminhamos para um Brasil ainda mais dividido do que em 2014, em que a diferença entre Dilma e Aécio foi inferior a três pontos percentuais.

A despeito dos muitos recursos que ainda podem ser impetrados, é provável que a decisão unânime dos desembargadores sepulte a candidatura de Lula. Se o ex-presidente sobreviver à Batalha de Porto Alegre é favorito a vencer pela terceira vez a eleição presidencial. Empataria o número de vitórias e derrotas em eleições presidenciais. Poderia se tornar a única pessoa a vencer e perder três eleições para o cargo mais importante do país. Além de ampliar um recorde. Não me lembro de nenhum político que tenha se candidatado 5 vezes à presidência. Se concorrer em 2018, será a sexta vez. Por favor, se houver outra pessoa que tenha concorrido mais do que Lula, comente e corrija o equívoco do blogueiro.

Se Lula não estiver concorrendo, vai valer uma lei do carteado, “dá-se um tapa na mesa e embaralha tudo de novo”. Jair Bolsonaro é representante de um segmento. Se conseguir segurar a própria incontinência verbal, sobrevive.

Não queria ser o pragmático a colocar água no chope de quem acredita em renovação. No entanto, há uma questão a ser pensada. Quem é o candidato que vai aglutinar os caciques? Quem são os caciques? Sarney, Renan e Jader, ou seja, o PMDB. Esses três, se não se dividirem, serão cabos eleitorais fortíssimos, mesmo que não subam nos palanques.

Vitórias em eleições majoritárias dependem muito do empenho dos candidatos nas assembleias e na Câmara dos Deputados. Sarney, Renan e Jader são mestres nesse jogo.

Rodrigo Maia, que também entende dessa estratégia, já lançou seu nome na roda em busca desse apoio. Se convencer a trinca e o prefeito de Salvador, ACM Neto, que tem chances, pode até se tornar um candidato competitivo. Alckmin também está de olho nesses caciques.

Ciro Gomes, Cristóvam Buarque e Marina Silva brigam na mesma seara. O Collor, bem, o Collor é imprevisível.


Mas tudo passa por Porto Alegre, nesta quarta-feira. O Outro Lado do Paraíso acaba em maio, mas a novela da vida real pode terminar bem depois de outubro. 

2 comentários:

  1. O texto está maravilhoso, o triste é o Brasil passar por td isso
    Parabéns!!!

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