quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O cardápio de Réveillon de Marcelo Odebrecht




Li a entrevista do ex-deputado Pedro Corrêa ao jornal O Globo. Ele é um daqueles exemplos típicos da doente política brasileira. Em alguns momentos quase se vangloria de seu envolvimento no escândalo do mensalão e na Lava-Jato. Não posso esconder alguns embrulhos pelos quais meu estômago passou ao ter contato com palavras de tão explícita desfaçatez e cinismo. Mas fui em frente.

Instalado num apartamento na Praia de Boa Viagem, o ex-parlamentar foi capaz de fazer um perfil de seus companheiros de cela. Dizendo que um era metódico, que outro era mandão e assim por diante. Atualmente, almoça com a brisa do rosto no mar. Não pode descer, mas o sol não está nascendo “quadrado” para ele. 

Assim como Pedro Corrêa, estão cumprindo prisão nos sacrossantos lares Marcelo Odebrecht e Lúcio Funaro. Abastados, com advogados caríssimos, conseguem um “fenômeno”. A venda que significa a “cegueira” da justiça parece dar uma “levantadinha” diante do poderio econômico dos causídicos e dos réus. 

O caso que eu vou contar agora demonstra a frase cantada pela banda Biquini Cavadão “aqui embaixo as leis são dferentes”. Um episódio que esbarra em dois problemas crônicos do Brasil. O primeiro é a desigualdade com que a justiça trata quem tem ou não capacidade econômica de encarar o sistema. O outro é o inchaço da população carcerária que deságua em casos como o da penitenciária em Aparecida de Goiânia.

O fato aconteceu numa cidade serrana do estado do Rio de Janeiro. Todos os nomes serão preservados. No entanto, é uma história que de tão recorrente, vai dar ao caro leitor a impressão de já ter ouvido falar. 

Um homem foi condenado a 3 anos de prisão por um crime. Como não tinha condições de pagar um advogado, foi assistido pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. 

Após 6 meses, o condenado teria direito à progressão de regime para semiaberto. Com um ano ficaria em regime aberto e com dois ganharia liberdade condicional. 

Pois bem, ele estava preso na cadeia de uma delegacia do município, portanto, fora do sistema penitenciário do estado. Por esse motivo, o condenado não conseguia fazer alguns exames que eram obrigatórios para a progressão da pena. Os defensores se mobilizaram e tentaram transferir o preso para uma penitenciária na capital, mas não tiveram sucesso. 

Resumo da ópera trágica: o condenado, que progrediria para o livramento condicional em dois anos, ficou preso a pena inteira em regime fechado. Há mais uma questão: a pena de todo condenado pela justiça do Rio vai para uma única Vara de Execução Penal, o juiz da cidade se esquivou de decidir qualquer coisa, porque não era de sua competência. O condenado pagou sua dívida com a sociedade, mas os defensores tiveram muito trabalho para soltá-lo mesmo depois de cumprida a pena. 

Como esse homem, há milhares nas nossas penitenciárias. É necessário que se faça uma força-tarefa para só deixar preso quem deve estar preso. Achar que os presídios são depósitos de gente que não presta e se isentar do que lá acontece é como um bumerangue radioativo. Vai voltar com efeitos devastadores para toda sociedade. 

No entanto, no Brasil, a celeridade da justiça tem um combustível conhecido, o vil metal. Quanto mais recursos disponíveis para clientes e advogados, mas rapidamente saem as sentenças. Ainda vivemos o país do “sabe com quem está falando?”. 

No meio disso tudo me veio uma curiosidade: qual terá sido o cardápio no Réveillon da humilde residência de 1000 m2 de Marcelo Odebrecht?


Até amanhã. 

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