terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Filhos encarcerados em nossas casas




Assistia à reportagem sobre o casal que mantinha 13 filhos aprisionados e desnutridos em casa, quando minha filha perguntou: “mas por que eles faziam isso”? A polícia tentou descobrir, mas Louise Anna Turpin e David Allen Turpin não souberam dar nenhuma resposta coerente sobre os motivos.

Este caso me trouxe à cabeça várias questões. A primeira, mesmo submetida a um tratamento cruel de quem o senso comum determina como alguém que a protegeria, a filha de 17 anos não se conformou, fugiu e salvou os irmãos. Pode ser contingencial, mas vi na atitude da jovem o inconformismo adolescente. Fico imaginando como ela esperou a chance de fugir, torcendo por algum descuido daqueles carcereiros.

Como era a dinâmica do convívio entre os irmãos? Provavelmente havia os conformados, os alienados e os que queriam se libertar. Para a sorte dos outros 12, a menina adolescente de 17 anos se rebelou contra a realidade cruel e abriu a janela, ganhou o mundo e salvou seus parceiros de cárcere.

Obviamente, o mais intrigante é imaginar como os pais foram capazes de fazer tal atrocidade com os filhos. Não se pode pensar de uma forma reducionista que é maldade, ou loucura. Há um método no que eles faziam. Alimentavam pouco, mantinham acorrentados, davam brinquedos que os filhos não podiam tocar.
Penso que na loucura deles havia também um intento de educar e preparar os filhos. Talvez seja a exacerbação do velho pensamento criticado por Cazuza na canção Um Trem Pras Estrelas: “Eu vou dar o meu desprezo pra você que me ensinou que a tristeza é uma maneira da gente se salvar depois”.

Na loucura deles, podem ter pensado que protegiam os filhos de um mundo perigoso lá fora e, no entanto, se transformaram nos maiores algozes de quem deveriam proteger.

Mais uma vez, minha filha me pergunta para provocar reflexões sobre este caso: “Por que eles levaram os filhos para passeios na Disney”? Essa conta não fecha se voltarmos a falar apenas em loucura e maldade. Talvez, esses passeios fossem uma recompensa no sinistro processo de “educação” a que os monstros submetiam os filhos.

Acredito que esse caso tenha aberto mais algumas portas de terror em nossos pensamentos. A loucura e a maldade têm um repertório vasto. Tão complexo, que às vezes ficam travestidas de normalidade. Em mim, ficaram algumas perguntas além das que minha filha fez.

Quantas vezes “encarceramos” os filhos em nossos sonhos? Quantas vezes “protegemos” nossos  filhos tendo como parâmetros nossos medos e não os deles? Por quais janelas nossos filhos vão conseguir escapar do excesso de zelo que às vezes os submetemos?


Não tenho respostas. Esse caso é tão complexo que pode ter sido praticado por um casal de loucos, que se reuniu e fez uma maldade inominável com os 13 filhos sem justificativa alguma.    

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