terça-feira, 10 de abril de 2018

A adolescência e a presunção da imortalidade

O passar do tempo acrescenta muitas coisas a você, não apenas anos. Eu ganhei quilos, fios brancos e temores. Acho que tudo exatamente nesta ordem. 

Meu filho fez 15 anos na semana passada e me pus a pensar no que eu fazia nesta idade. Tive aventuras jornalísticas. Pois é, eu era colaborador do jornal Barbosinha, da Biblioteca Infantil Maria Mazetti, na Fundação Casa  de Rui Barbosa. 

Aos 15 anos tinha a certeza da imortalidade. Tinha opinião sobre absolutamente tudo e era até meio esquentadinho.  

Nesta época, minha irmã Lau me chamou num canto e me deu um conselho que guardei para a vida. Ela me disse que eu gritava muito. Que ninguém mais prestava atenção em mim, porque como eu sempre gritava e esperneava, meus estouros eram “normais”. Ela me explicou que se eu valorizasse meus berros, ou seja, estourasse apenas quando fosse inevitável, as pessoas prestariam mais atenção. Demorei um pouco para entender o que ela dizia. Adolescentes são surdos e empacam. O jeito é esperar para que eles se sensibilizem com as nossas palavras. O tempo deles não é o nosso. 

Na adolescência eu acreditava na imortalidade e isso me enchia de coragem. Só assim mergulhava da Pedra do Leme. Nada como a leviana irresponsabilidade adolescente. Minha mãe nem imaginava que eu fazia isso. E honestamente, espero que meus filhos nem pensem em fazer. Eu poderia ter morrido. Levei alguns sustos no mar, pois como diz mestre Paulinho da Viola, o mar não tem cabelo. 

Mas vamos viajar no tempo e adiantar o rolo do filme (eu e minhas metáforas século XX). Em determinado dia da minha vida adulta, o então governador Anthony Garotinho foi vistoriar as obras do emissário submarino de Ipanema. 

Para cobrir a visita, nós, os jornalistas, pegaríamos uma lancha no Grupamento Marítimo de Botafogo. O governador iria de helicóptero. Pois bem, éramos 11 almas jornalísticas. As condições do mar não eram favoráveis. Dos 11 profissionais que embarcaram, só um não passou mal. Sim, o escriba escapou da revolta de Netuno e chegou sem que o estômago parecesse um velho jornal amassado depois de usado para embrulhar peixe na feira. 

Subimos na plataforma que fazia os reparos. Os enfermos foram atendidos na  enfermaria do local. Garotinho vistoriou a obra e não deu entrevista, ou se deu, não era relevante. Na hora de ir embora, a maré estava baixa. A lancha que nos deixara, não dava altura para nos pegar. 

Tivemos que ser colocados no barco transportados por um guindaste. Lembra do garoto que pulava da Pedra do Leme? Pois é, ele já não estava entre nós. Como disse, os anos acrescentam muitas coisas, inclusive o medo. Ao subir no guindaste e ser transportado, preferi ficar de frente para a praia de Ipanema. Achei que olhar o infinito do mar me daria mais medo. 

A operação de embarque na lancha deve ter durado três minutos para cada profissional. Mas para mim parecia durar horas. Depois de devidamente  embarcados, a viagem de volta ao GMar foi tranquila. 

No dia seguinte, minha foto no guindaste estava na primeira página do JB. Um monumento para que eu nunca esquecesse minha aventura náutico-jornalística. 


Não sei se passados quase 20 anos, conseguiria sair incólume de uma viagem de lancha num mar encrespado entre a Praia de Botafogo e a Praia de Ipanema. Afinal, os anos acrescentam algumas coisas, inclusive enjoo ao andar de barco. 

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