segunda-feira, 9 de abril de 2018

A FAB tem que apurar a conversa dos controladores no voo de Lula

Gostaria de fazer nesta segunda-feira um texto celebração. Afinal consegui cumprir até aqui um desafio. Chego ao texto de número 200. Eles foram escritos diariamente desde o dia 30 de setembro. 

No entanto, não há muito o que celebrar. Já me referi a frase de Karl Marx em que ele diz que a história se repete a primeira vez como tragédia e a segunda da como farsa. Novamente vou ter que humildemente discordar do pensador alemão. Ele não conheceu o Brasil do Século XXI. Aqui a história se repete como tragédia também. 

O áudio divulgado pelo Jornal do Brasil em que uma conversa registrada durante o voo que levava Lula de São Paulo para Curitiba é um escândalo. “Manda este lixo janela abaixo aí” é um caso em que a Aeronáutica teria que apurar com rigor quem falou isso no canal interno da FAB. A sociedade não pode nem desconfiar que uma atitude dessa poderia ser tomada por uma equipe militar. Este é o espírito presente nas Forças Armadas?

Urge que o comando da FAB tenha uma atitude mais firme do que distribuir uma nota reconhecendo a existência da conversa. 

A alegação da Aeronáutica que qualquer um pode entrar por ser uma linha aberta e muito preocupante. Se uma linha que controla o tráfego aéreo é aberta, a risco de acidentes é grave. Se essa desculpa for para fugir de uma apuração é uma medida absurda. 

Esta conversa me lembrou o caso Para sar. O plano arquitetado por um brigadeiro da Aeronáutica consistia em fazer vários atentados terroristas como cortina de fumaça para encobrir o sequestro de políticos influentes brasileiros. Depois eles seriam assassinados, jogados de um avião em alto maior. O plano só não foi adiante por que o capitão Sergio Miranda de Carvalho, o Sérgio Macaco, se recusou a cumprir a ordem e denunciou o plano para seus superiores. 

Isso aconteceu há 50 anos. Em termos históricos é como se tivesse sido anteontem. Ainda há muita gente viva que conheceu o caso, apesar de não haver mais oficiais daquele tempo na ativa. 

A tragédia não pode se repetir. Lula está sob custódia do estado brasileiro. Quando o diálogo desrespeitoso aconteceu ele já estava. Não pode nem passar pela cabeça de ninguém que vejamos casos como de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho na cadeia de Curitiba. 

“Ah, foi brincadeira”, “claro que ninguém faria isso”. Amigos, a vida não está para brincadeira e esta frase não é apenas um clichê. O país inteiro viu um deputado federal ir a um comício na Avenida Paulista com arma na cintura. Manifestantes anti-Lula jogaram rojões contra a aeronave que transportava o ex-presidente. 

A caravana de Lula foi alvejada por tiros quando estava no Paraná. Uma livraria de Curitiba cancelou um evento com uma escritora identificado como de esquerda. Estou com medo deste país. 

E por mais que a prisão seja considerada uma vitória por parte da população e pela elite brasileira, é importante que Lula tenha sua integridade física preservada. 


Apesar do passado estar “rondando a porta feito alma penada”, todos os arroubos autoritários devem ser afastados. 

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, e pela cobrança de explicações. Também estou com medo desse mundo em que "tudo contra o meu inimigo é legal"

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