segunda-feira, 16 de abril de 2018

Nossas viagens diárias

Acho que este fim de semana foi o primeiro que efetivamente não teve cara de verão na cidade do Rio de Janeiro em 2018. Não é que de março para cá não tenha chovido, é que os termômetros resolveram dar uma aliviada. 

Vai começar aquele época do ano em que amanhece mais tarde e anoitece mais cedo. Como faço parte da tribo das 6h da manhã, acontece aquela sensação de acordar de noite. Por mais que você durma cedo, olhar pela janela e os postes da rua ainda estarem acesos dá uma sensação de que a noite de sono foi curta. Y

Realmente não posso reclamar. Nos meus tempos de repórter e de chefe de reportagem na CBN eu acordava às 5h15m. Entrava na emissora às 6h, ou seja, na hora que acordo, em outros tempos, já estaria trabalhando. 

Ouço os relatos das meus alunos que moram mais longe da universidade e me assusto. Como sempre dei sorte de morar relativamente perto dos locais que estudei, penso que o esforço deles é muito maior do que o meu. Tem uma galera que leva até três horas para chegar à faculdade.

As histórias destes alunos reafirmam em mim a triste sensação que o poder público não zela pelo transporte. As histórias no BRT são desrespeitosas. Há os caras de pau que invadem o vagão das mulheres no metrô, o motorista de ônibus que não para no ponto... Como ouvi de uma aluna: “às 7h30m já foram tantos violações de direitos, que a gente nem se dá conta”. 

O grande desafio  é não deixar que o esforço nos embruteça e impeça de viver a vida com doses de poesia e prazer. 

No meio do ritmo acelerado, procuro pequenas coisas para me emocionar e vestir de lirismo a rotina. Nem que seja a lembrança de uma musica, o comentário sobre o futebol no fim de semana, ou compartilhar alguma história que alivia a barra das incertezas e angústias. 

Eu também olho fotos dos meus filhos em varias idades. Essa é uma das vantagens da tecnologia que a gente não pode desperdiçar. Nessas horas agradeço a obstinação da minha mulher por querer registros fotográficos de vários momentos. 

A gente consegue viajar um pouco até o momento que as fotos foram tiradas. Neste texto que fala de rotinas, acabo  por apelar à metalinguagem. 

Escrever é uma das atividades rotineira que me propus. Pretendo cumpri-la diariamente. É menos nobre do que pegar três conduções para trabalhar ou estudar, mas em alguns momentos, pode ser desafiador, doloroso e compensador. 

Quando nasce o texto é aquela sensação de desembarcar do ônibus cheio. Acho que acabo de criar uma metáfora vulgar. Escrever é uma viagem de ônibus. Tem dias que você vai sentado, com o trânsito bom e chega rápido. Há outos, com a condução cheia, trânsito engarrafado e motorista mal-humorado. 

Esta crônica nasceu como fruto de metáforas pobres e frases a procura de um sentido. O que importa é que a chegada de agora é a partida de daqui a pouco. O ponto final de um texto é o elemento gráfico e simbólico que precede o título do próximo. 


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