segunda-feira, 30 de abril de 2018

A Rádio Globo é um vaso milenar

Outro dia vi uma discussão no Facebook sobre o alcance de posts no Instagram do programa do Otaviano Costa, na Rádio Globo, e do Show do Antônio Carlos, na Rádio Tupi. O post da Rádio Globo tinha 10 mil curtidas e o da Tupi, 61. Se os números não eram exatamente esses, a proporção era. 

Bem, a primeira coisa é que os programas não são nem concorrentes. Antônio Carlos vai ao ar das 6h às 8h. Otaviano entra no ar às 8h. Segunda razão, a Rádio Globo não está mais no segmento popular. A emissora buscou outro posicionamento, logo, qualquer tipo de comparação com a Tupi é querer medir o número de maçãs  a partir da quantidade de bananas. 

O público que a Rádio Globo busca tem mais o perfil do Instagram do que o ouvinte da Tupi. Então, essa “vitória” da Globo na rede social pode ser significativa  a médio ou longo prazo. Agora, não diz muita coisa. 

Se você quiser avaliar a Globo sem saudosismo , deve compará-la com a rádio com a qual buscou concorrer: a JB FM. Aí, pode ser avaliado o estágio da reformulação da emissora, que entrou no ar em junho do ano passado. A JB tem cerca de três vezes a audiência da Globo. 

Acho que esse número do Ibope  é o que menos importa aos gestores da emissora. Se você quiser ser um ouvinte atento, preste atenção aos comerciais. São eles que sustentam uma rádio. Se você começa a ouvir muitas chamadas da programação da emissora, é porque as vendas estão baixas. O índice mágico se chama “taxa de ocupação dos breaks”. 

A missão de quem foi para a Rádio Globo tem pouco a ver com propostas artísticas ou de audiência. A questão é financeira. Se a emissora der dinheiro, os donos e a diretoria ficarão satisfeitos. 

A audiência só não pode ser desprezada totalmente porque sem ela não se consegue vender comerciais na rádio. Não escuto mais a Radio Globo como já ouvi, mas quando sintonizo percebo poucos comerciais e muitas chamadas institucionais. Mas não posso cravar que a taxa de ocupação dos breaks está baixa. 

Se na audiência a JB já dá uma goleada, na ocupação dos breaks a diferença se acentua. Na JB, até a informação da hora certa tem patrocínio. Os intervalos são mais cheios que os da Rádio Globo, isso posso cravar. 

O SGR precisava encontrar uma solução para a Rádio Globo, que produzia rombos milionários. Olhou para a CBN e achou que poderia copiar a fórmula da rede e público qualificado para conseguir sucesso. A questão é que há alguns quadros que se assemelham nas duas rádios. O modelo de colunistas, por exemplo, aproxima os dois estilos. O perigo é a Rádio Globo começar a atuar na mesma faixa de público da CBN e dar origem a um processo de canibalização da co-irmã. 

A direção do SGR tinha muita esperança na Rádio Globo em FM na capital paulista. O problema é que a emissora ainda não aconteceu nem em audiência e nem em receita na praça mais rica do país. 

Uma das fórmulas do sucesso da CBN foi convencer o mercado publicitário que deveria somar a audiência do AM e do FM para se tornar competitiva. A direção da Rádio Globo, talvez por desinformação da estratégia já aplicada, fez o inverso. Nem cita mais as frequências em AM. A alegação é que manter os canais de AM é muito caro. É aquela coisa, para crescer não é só cortar, tem que investir também. 


O caso da rádio Globo é emblemático. Se conseguir ter êxito mudando completamente o público e a programação, será um caso a ser estudado nas universidades.  Se a rádio sair dessa aventura menor do que entrou, a direção vai ser comparado ao caso daquele discípulo a quem o mestre confiou a segurança de um vaso milenar. Quando o mestre se distraiu,  o discípulo deixou o vaso cair e transformou toda a tradição em pó. 

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