quarta-feira, 4 de abril de 2018

Os 15 anos do meu filho (ou há 15 anos virei pai)

Entrei no seu quarto perto da meia-noite para ver se você estava dormindo. Hoje entro lá para ver se o celular já está desligado. Há 15 anos, eu levantava no meio da noite para ver se você estava respirando. 

Pai de primeira viagem é assim. Filho é de vidro. Depois a gente constata que de vidro somos nós. Os filhos sobrevivem apesar de todos os nossos medos. 

Então veio a creche. Nossa, ainda lembro da primeira vez que você voltou com a marca da mordida de outra criança. Ao olhar a sua bochecha, me deu uma vontade de chorar. Pais esquecem que as mordidas na creche também fazem parte do aprendizado. 

Hoje você está fazendo 15 anos. A gente já divide o creme de barbear e alguns sapatos. Calças e camisas são de tamanhos diferentes, logo, não podemos dividir. 

O tempo me ensinou que não adianta querermos que os filhos sejam versões melhoradas de nós. Na verdade, as pessoas são únicas, porque os caminhos são únicos e as escolhas são únicas. 

A adolescência não é fácil, os questionamentos não são fáceis. Mas quando quero me lembrar daquele tempo, vou ao seu quarto de noite. Aquele cara na cama ainda guarda a expressão serena do bebê que eu segurei na sala de parto, no primeiro banho e nas primeiras trocas de fralda. 

Os filhos ensinam muito aos pais. Talvez porque eles estejam mais inseridos no tempo presente. Às vezes nós, os pais, ficamos presos às nossas músicas, aos nosso livros e aos nossos dogmas. Filhos oxigenam a alma, ensinam novas gírias, novas séries e novos tempos. 

Como é bom o privilégio de ver uma pessoa se formando, do engatinhar ao correr. Como é gratificante acompanhar as pedaladas se transformarem. Antes era a bicicleta de rodinha no play, agora é um rolé de bike com os amigos. 

Filho, já disse isso muitas vezes. Agora vou abusar da sua timidez. Amo você demais, de um amor que é tão grande que parece que vai doer. Quando você ouvir a canção Oração ao Tempo, de Caetano Veloso, lembre-se da frase “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho, tempo, tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos. Tempo, tempo, tempo, tempo”. Saiba que em algum lugar vou estar cantando essa musica pensando em você. 

Pedro, torço muito para você. Como sou seu pai, vou lhe dar alguns conselhos. Não escolha o caminho mais fácil, tente escolher o caminho certo. Não deixe de fazer as coisas por medo de sofrer. O sofrimento é inerente à vida, só não pode deixar que ele seja o ponto final. Coma devagar para aproveitar os sabores. Não esqueça dos amigos, brigue as brigas que valem à pena e chore apenas o inevitável. Acabe o que começou e não tenha medo de amar. 

OK, foram muitos conselhos e não apenas alguns. Por mais que o formato de nossos pés sejam parecidos e que você tenha a intenção de andar pelo mesmo caminho que eu indiquei, as pegadas sempre serão suas. A sua chegada vai ser diferente da minha. 

O desenho da sua obra está apenas começando, mas muitas coisa você já viu. Trace suas retas e descanse em algumas curvas. Faça como Teseu, que  usou um novelo para não se perder no labirinto. Mas se o caminho ficar  escuro e tortuoso, conte comigo. Quando não der para pegar na sua mão, espero que meu amor sirva como farol. 

Parabéns, meu filho, meu amigo, minha mala, meu herói. 

2 comentários:

  1. Belo texto! Belo pai! Belo filho!

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  2. Maravilhosas palavras!!! E eu tenho orgulho de ser madrinha do Pedro!! Agradeço mais uma vez por terem me escolhido! Beijos compadre!!!

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