sábado, 14 de abril de 2018

Rostos que passam pela nossa vida

Fui trocar o jogo de cordas da guitarra do meu filho. Como não entendo patavinas disso, me dirigi à loja em Copacabana onde comprei o instrumento. 

O lugar foi indicação do meu grande amigo Isidoro Kutno, que aliás é o professor do Pedro. Logo que ele disse que gostaria de tocar guitarra, só pensei no Isidoro para ensinar. 

Este ano eu e o Isidoro completamos 25 anos de amizade. O conheci em 1993, durante uma temporada da Rio Jazz Orchestra no People. Casa noturna mítica dos anos 80 e 90 que ficava na Bartolomeu Mitre, no Leblon. 

Conheci na mesma época a pianista Sheila Zagury, o baixista Augusto Mattoso, as cantoras Laura Valle e Ju Cassou. Acompanhar aquela turma mudou meu gosto musical. Fui apresentado a coisas que eu não tinha a menor ideia que existiam. 

A Rio Jazz tinha a regência do maestro e cirurgião Marcos Szpilman. Fui a algumas jam sessions na casa do Marcos, em São Conrado . Tive a oportunidade até de conversar com Fernando Sabino. Amante de Jazz e baterista nas horas vagas. 

Enquanto esperava uma moça trocar as cordas, conversei com um guitarrista que estava comprando pedais. O nome dele era Júlio Maia. Ele me perguntou se eu tocava em algum lugar. Ri, expliquei que esperava a guitarra do meu filho ficar pronta e que não sabia nem tocar um “lá” no instrumento. 

Usei o santo nome do Isidoro em vão. Aliás, falar o nome dele sempre abre portas musicais. Isidoro tinha dado aula ao Júlio também. Ele confirmou o que eu já sabia. O meu filho estava com um excelente professor.  

O instrumento ficou pronto e saí por Copacabana levando a guitarra. Quem olhava poderia pensar que eu era mais um guitarrista, quando na verdade era apenas um pai cumprindo um papel de roadie. A vida é transformação. Já fui irmão que cumpria o papel de roadie, agora sou pai fazendo a mesma coisa. Acho que carregar o instrumento compensa de alguma forma a minha frustração por não saber tocá-lo. 

Ao chegar em casa, troquei mensagem com Isidoro e transmiti o abraço do Júlio Maia. Começamos a recordar as pessoas da Rio Jazz. 

Isidoro tocou anos na orquestra e me contou que vários integrantes já haviam partido. O próprio Marcos já se foi. Perguntei se ele ainda tinha contato com alguns músicos. Ele disse que não. Isidoro me explicou que tem gente que ele só tem notícias pelo Facebook. 

Cheguei a fazer alguns trabalhos de produção com a Rio Jazz. E fui a vários bailes em que eles tocavam. Engraçado pensar que durante vários anos aquelas pessoas se encontravam todos os fins de semana e agora só conseguem se falar pelas redes sociais. 

O Marcos, o Pássaro, o Zuza e tantos outros que partiram da Rio Jazz devem estar fazendo o maior som em algum baile noutro plano. São rostos, vozes e conversas que passam pelas nossas vidas. 

Eles ficam em algum lugar depositados e nos tomam com a força de uma lembrança. Nostalgicamente, fazem parte de nós, das nossas histórias, do nosso repertório e da nossa estrada. Um dia nós seremos essas lembranças. 

A vida é assim e a música não pode parar. Quando a orquestra faz um intervalo entra a música gravada. Essa é a regra até o baile acabar. 


3 comentários:

  1. Que lindo, Creso! Muitas saudades dessa época! Vamos tentar todos nos rever? Penso hoje em dia que a vida é ciclica e não uma linha reta. Tenho sempre falado com a Laura. Grande beijo!

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  2. Creso!!!!!! q saudades!!! t achei!!!! lindo!!! eu sou sempre uma " pescadora", vivo buscando pessoas , convidando para um cafe! agora to em sampa, e sempre lembro de vc!!!! nao vem pra ca nao? grande bj meu mestre de danca....

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