domingo, 22 de abril de 2018

Tenho chorado pouco ultimamente

Ando chorando pouco. Isso não é necessariamente bom. O choro é o contato mais intuitivo e inevitável com as próprias emoções. A conclusão é que tenho estado um pouco desconectado das minhas emoções. 

Estar desconectado das emoções revela quase um certo distanciamento da realidade íntima. Os inúmeros desafios diários que a vida nas grandes cidade nos impõe fazem com que o tempo para o ócio e contemplação fiquem cada vez menores. Às vezes, o momento de respirar e pensar na vida surge entre um passar de marcha e outro, enquanto você está preso num congestionamento. 

A metáfora do carro é apenas uma das que podemos utilizar para se referir à falta de tempo. Hoje resolvi sair de casa com um único objetivo: sair. Olhar a rua, olhar o mar, a Lagoa, as pessoas fazendo exercícios. Todos com o objetivo de adiar o inevitável. 

Caminhei pela Lagoa e resolvi sentar num deck e sozinho tentar ter um contato com as minhas emoções. A beleza da cidade costuma me emocionar. Um dia, ver a cara do Cristo à bordo de um helicóptero fez com que algumas lágrimas brotassem dos meus olhos. Então sentei no deck à beira da Lagoa para induzir o contato com “as minhas emoções”. 

Pois bem, o cenário era lindo, pedalinhos com formato de cisne transportavam casais aparentemente apaixonados e família dedicadas a fazer do dia de descanso um lazer produtivo. 

Não aconteceu nada. Minhas emoções não afloraram em lágrimas, mas num pouco de irritação. Um grupo resolveu sentar ao meu lado. Uma das pessoas jogava e pegava continuamente uma garrafa plástica semi vazia e provocava um barulho irritante na madeira do “deck”. 

Cada um aproveita democraticamente o seu dia. Resolvi abstrair o barulho. Logo depois um menino de não mais que 2 anos chega e grita para a avó: “olha a piscina”.  Se referindo à Lagoa. Fui despertado de minhas emoções. A avó era aparentemente da minha idade. 

Então é isso, tenho à idade de avós. Despertei de meus devaneios fui trazido à condição humana e mortal, percebi que o sol estava me queimando e eu não tinha passado protetor. 

Em homenagem ao meu amigo Luciano Garrido termino este texto com uma cena de Kung Fu Panda. O mestre Shifo tenta descansar após uma batalha e a tagarelice do Panda não permite. Assim como o personagem do desenho, resolvi adiar o contato com minhas emoções para uma outra vez. 


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