domingo, 8 de abril de 2018

Os caminhos que a Rádio SRZD aponta e a cobertura da prisão de Lula

A Rádio SRZD tinha o objetivo de alcançar 100 mil acessos mensais em 4 meses. Talvez consiga a marca na metade do tempo. 

O que importa nesta iniciativa do jornalista Sidney Rezende é a declaração de amor ao veículo que o lançou. Aliás, é uma declaração de amor, mas também guarda uma outra característica do Sidney. Ele é um apostador, no melhor sentido da palavra. 

Como todo o projeto feito mais na vontade do que na fartura de grana para investimentos, Sidney arregaçou as mangas, convidou para o projeto esportivo profissionais talentosos como Evaldo José, Antônio Carlos Duarte e Felipe Santos e colocou o “avião no ar”, com muito mais coragem do que certeza num retorno econômico. 

Torço muito pela Rádio SRZD, pela iniciativa em si, mas também por uma presença especial: Marco Antônio Monteiro. Meu primeiro grande mestre no rádio. O cara que apostou em mim quando eu era recém formado. Um chefe duro, que acreditava no talento, no esforço e no trabalho. 

Aliás a parceria entre Sidney e Marco Antônio começou na mítica JB AM dos anos 80, passou pela breve aventura da rádio Panorama Brasil em 1990 e continuou nos primeiros 10 anos de vida da CBN. As digitais dos dois estão no nascimento daquela que já foi a rádio jornalística mais importante do país. 

Sidney e Marco Antônio juntos num projeto é garantia de qualidade jornalística. A Rádio SRZD aponta para um caminho. As novas tecnologias da informação fizeram com que a oferta de áudio crescesse exponencialmente. Paradoxalmente,  A radiodifusão tradicional sofre com a redução e o envelhecimento de seus ouvintes. A grande rede como plataforma iguala o jogo. Quem tiver bom conteúdo pode sobressair, já, quem ratear, pode perder cada vez mais espaço. 

O mercado do Rio tem apenas 4 emissoras que segundo o Ibope estão acima dos 100 mil ouvintes por minuto e nenhuma acima de 200, de acordo com os números de março. Há 3 anos, as três rádios mais bem colocadas conseguiam ultrapassar a barreira dos 200 mil. Sinal de alerta para os gestores. Para se ter uma ideia, em janeiro de 2015, a Rádio Globo tinha 188 mil ouvintes por minuto. Era a quarta colocada, com esses números, hoje, seria a primeira. 

Nesse momento de queda na audiência do dial, a aposta da Rádio SRZD é correta. Não é uma rádio para super audiências, mas pode se tornar sustentável. O rádio do Rio carece de um produto de qualidade jornalística. 

Como dou aula de radiojornalismo, resolvi percorrer as três rádios talk mais relevantes do dial carioca. Por volta das 18h de sexta,  com toda expectativa em torno da prisão de Lula, eu pude ouvir a Tupi mantendo a programação, a CBN entremeando a cobertura de Lula com outros assuntos, inclusive uma longa entrevista com o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. Durante o tempo que ouvi (das 18h às 18h50m) a Bandnews foi a emissora que falou mais tempo sobre o imbróglio de Lula em São Bernardo. A Band só interrompeu para chamar o bloco do Rio, pois a Avenida Niemeyer estava interditada em plena hora do rush por causa de um tiroteio. 

Com medo de parecer um saudosista, o rádio que aprendi com Marco Antônio, Sidney, Mauro SIlveira, Alexandre Caroli, André Giusti, Marco Aurélio e Luciano Garrido era mais pulsante. A gente derrubava absolutamente tudo e “virava” a programação. A adrenalina deste momento viciava quem gostava do que fazia. 

No tempo que ouvi a cobertura da CBN na sexta, soube até que Cristiano Ronaldo havia feito um acordo com o fisco espanhol. Numa boa, preso no engarrafamento, sem poder acessar nada, o mínimo que esperava da emissora jornalística era um acompanhamento em tempo real do que acontecia na sede do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo. 

Outro aspecto que me chamou atenção nestes tensos dias foi a cobertura dos grandes veículos sobre a epopeia para prender Lula. 

No sábado, só subiram o som na fala de Lula. Não se ouviu nada do que disseram os padres, os pastores e muito menos o discurso de Dilma Rousseff. Ora, Dilma foi eleita duas vezes presidente da República.  Numa cobertura isenta, o que ela disse em um evento histórico, merecia ser registrado. Em vez disso, mostravam imagens e os comentaristas opinando sobre a situação. O que achei curioso é que a todo momento se pontuava que Lula falava para convertidos, assim como eles, os comentaristas, também faziam isso. Não parece haver, para mim, independência nas narrativas. É uma batalha de convertidos contra convertidos. Se já houve Anos Dourados (1958), Anos Rebeldes (1968), estamos mais do que nunca no que Eric Hobsbawm definiu como Era dos Extremos. Dois mil e dezoito, o ano dos extremos. 

No fundo,  Lula conseguiu transformar sua prisão num grande ato midiático. Se tornou ator num momento em que outros se esconderiam e entrariam pela porta dos fundos da sede da PF. Ao transformar a prisão numa espécie de Via Crucis político-midiática, injetou ânimo na militância. A que lugar isso vai levar, apenas o tempo dirá. 

Este texto seria apenas uma reflexão sobre a alternativa representada pela Rádio SRZD, mas a situação do país conduziu quase que autonomamente a reflexão para outros campos.

No mais, espero que Sidney Rezende e Marco Antônio Monteiro encontrem tempo para apresentar programas na Rádio SRZD. Os ouvintes e o rádio como um todo agradeceriam. 

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