terça-feira, 3 de abril de 2018

Benjamin, Brecht, Kafka e Chico Anysio

Durante uma aula no mestrado, fiquei sabendo que Walter Benjamin e Bertolt Brecht tiveram discordâncias sobre aspectos da obra de Franz Kafka. Fiquei imaginando as tretas em que já me meti e comparando com as divergências entre os autores alemães em questão.

Para começar a discussão, Kafka é aquele cara que escreveu um livro que em determinado momento ele olhava para o espelho e tinha virado uma barata. Vamos desconsiderar o aspecto filosófico. Tem que ser meio doido para pensar nisso. Admiro essa capacidade de abstração, eu não teria. 

Enfim, a discussão de Benjamin e Brecht deve ter sido muito mais profunda e, juro, ainda vou pesquisar para entender. Mas voltando ao meu histórico de tretas, pensei em algumas que já me meti. 

A primeira que me lembro foi por causa de futebol. Detratores, que não conseguiam ver a luz, diziam que o Zico não era isso tudo que eu achava, porque não venceu a Copa de 82. Eu ficava mordido. Que ele não era campeão do mundo e que não poderia estar na galeria dos grandes do futebol. Tipo de treta que a gente só se mete quando é criança. A melhor resposta que vi a respeito foi do Fernando Calazans: “se o Zico não ganhou a Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo”. O Galo tem companhia ilustre neste clube, Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo. Desconfio que o argentino pode sair da turma este ano. 

A próxima que merece registro foi na disputa Collor e Lula em 1989. Outro dia vi uma entrevista do Collor no Globo em que ele chamou o Lula de um grande líder político. Tendo em vista esta declaração, acho que nem eles ligam mais para esta treta, porque eu vou rememorar?

Outra que me meti foi por causa do beijo entre os personagens Felix e Anjinho no final de Amor à Vida. Nossa, o post que fiz no Facebook defendendo a cena produziu  amor e ódio em quantidades iguais. 

Não sei bem em que momento foi, mas decidi não me meter mais em tretas. Nem futebolísticas, nem morais e nem políticas. Quando vejo uma treta, prefiro fazer como se faz quando o ônibus lota no ponto de partida: espero o outro e vou sentado. 

Acho que essa atitude vem um pouco da constatação que não existe uma verdade. Os fatos, os comportamentos e as pessoas são produto do que o olhar sobre eles constrói. A verdade para mim não é a verdade para outro alguém. Ao entender isso, talvez consigamos brigar menos. 

Me inspiro numa das frases do evangelho perdido de São Ptolomeu: “só brigue as brigas que valem a pena”. 

Bem, se eu tivesse essa erudição toda, talvez me arriscasse a dizer que lado apoiaria na disputa entre Benjamin e Brecht sobre a obra de Kafka. Se continuar a discussão, posso fazer como o deputado estadual que chamou o teatrólogo alemão de Bertoldo Brecha, personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Aliás, entendo mais de Chico Anysio do que das obras de Brecht, Benjamin e Kafka juntas. 

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