sábado, 3 de março de 2018

A ponte do afeto entre pais e filhos





Acho que a grande dificuldade no relacionamento entre pais e filhos em nossos dias está na diferença de conhecimento. A balança está desequilibrada para o lado dos mais novos. 

Meus filhos de 14 e 12 anos tem mais informações em seus novos “HD’s” do que eu na minha memória analógica. A adolescência já era uma época de questionamentos e conflitos entre pais e filhos, agora acho que está pior. 

Vivemos um grande impasse. Os jovens têm um acúmulo de informações impressionante e maturidade zero para administrá-las. 

O que podemos fazer? Somos empíricos e analógicos, queremos ensiná-los, mas esbarramos nas nossas limitações. Para cada “lição” que queremos lhes dar, eles voltam com artigos, games e vídeos que lhes falam com mais proximidade. 

A única porta para o diálogo parece ser a do afeto. Fazê-los entender que apesar de terem mais informação do que nós, somos necessários como velhos oráculos. Devemos recorrer a exemplos que falem aos seus corações. 

Um deles pode ser mostrar que Luke Skywalker precisou do Obi-Wan para se tornar um Jedi. Ao passo que Anakin, mesmo com todo potencial, se deixou levar pelo lado ruim da força e se transformou em Datth Vader. 

Brincadeiras nerds à parte, essa questão é realmente preocupante. Eles vivem relacionamentos e interações impensáveis em nossa adolescência. Um amigo do meu filho morou dois anos fora e voltou há pouco ao Rio. Perguntei a ele como foi retomar o contato, a resposta do meu filho me deixou um pouco desconcertado: “não perdemos o contato”. 

É isso, eles não precisam desse negócio tão segundo milênio que é o encontro pessoal. As relações são virtuais. Compartilham links, videos, memes e mantém a chama da amizade sem fronteiras. 

Obviamente, nem tudo são flores. Eles podem se fechar em seus círculos virtuais e terem dificuldade de se expressar ao vivo, olhar nos olhos do outro. Fazer a “ronda” nas redes sociais deles pode ser uma solução para evitar as armadilhas. Mas pense, se você dava “cambalhotas” nos seus pais com telefone discado, que demorava a dar linha, imagine como eles são capazes de esconder algo de você, cidadão do século passado. 

A ponte do afeto é a única capaz de fazê-los entender a frase de Ben Parker, tio do Homem Aranha: “grandes poderes requerem grandes responsabilidades”. Bater de frente, dizer “você vai fazer isso porque sou seu pai”, só vai afastar e destruir a via de acesso ao coração do filho. 

Nesse mundo com milhões de ofertas, terabytes e aplicativos até para marcar ciclos menstruais está cada vez mais difícil ensinar que a gente tem que viver com o necessário e sem ostentação. 

Afinal, ainda não inventaram remédio para o destino inevitável de toda vida. A grande lição que podemos dar é ser felizes com o que temos. Desejo sem satisfação e realidade apenas virtual só nos farão enlouquecer e morrer aos poucos. 


4 comentários:

  1. Muito pertinente. É issk mesmo. As lentes não são as mesmas. Temos que buscar convergência para manter a conexão.

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  2. Excelente Creso! Identificação total com tudo que vc disse! É impressionante como eles se relacionam - o tempo todo e, ao mesmo tempo, de tão longe... Serginho disse que com as nossas lentes eles exergam turvo. Concordo! Então, o caminho para o encontro passa pelo coração, você tem toda razão!

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    1. Pois é. Amar é ter compreensão. Às vezes nos esquecemos disso é queremos molda-los. Eles são pessoas com identidades próprias. Vivendo num tempo que pertence a eles.

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