quarta-feira, 14 de março de 2018

Crônicas de viagem: Bahia II

Ao me propor escrever todo dia neste blog, me apanho cada vez mais curiosoo. Os detratores, provavelmente, me chamariam de fofoqueiro. A verdade é que agora não consigo disfarçar minha atenção na conversa alheia. 

Antes tinha pruridos de acompanhar as conversas, mas agora, persigo-as para encontrar matéria prima. É assim, vou por aí sugando fragmentos da vida dos outros para transformar em prosa neste ambiente digital. 

Como já disse em alguns textos, estive na Bahia recentemente. Para ser mais preciso, visitei Salvador. E seguindo um conselho de Geneton Moraes Neto, resolvi olhar tudo como se fosse uma criança que vê algo pela primeira vez. 

Então acometido por febre nervosa, tentava documentar em imagens tudo que fosse bonito. Os instantâneos nos permitem viagens no tempo. Revive-se tudo ao se deparar com um quadro que lhe fez feliz, com o sorriso eternizado à beira mar,  ou na fotografia daquele restaurante que enche a boca d’água só por recordar. 

Nesta viagem, comi pratos deliciosos, vi cenários de cinema, de novelas e livros. Mas a história que se segue ocorreu quando eu comia um criminoso fast food numa lanchonete conhecida. 

Estava na fila para comer um big sanduíche. quando escutei um diálogo sensacional. Uma senhora, de aproximadamente 80 anos se dirigiu ao caixa e perguntou: “tem barbeiro na água desta lanchonete”?

Diante de tão inusitada pergunta, decidi voltar minhas antenas curiosas para ela, afinal, para um caçador de pequenas histórias, a mulher poderia ser um achado. 

Um homem na fila se compadeceu da pergunta e começou a dar uma aula resumida da transmissão de doenças e de seus vetores. A conversa seguiu e a conversa tomou contornos pessoais. 

Ela - Você está sozinho?

Ele - Não, esses dois meninos são meus filhos. 

Ela - E a mãe?

Ele - Na verdade, sou casado com ele - E aponta para um rapaz que pagava a conta - nós adotamos os meninos. 

Ela - Ah, essas mulheres de agora são tão mandonas, que os homens resolveram que vão casar entre eles. Tá certo!

Segurei  a gargalhada, mas me surpreendi por não ter saído nenhum comentário homofóbico. A resposta não deixou de ser desconcertante e inusitada. 

O rapaz que estava na fila riu e a vida seguiu. Meu sanduíche chegou e eu fui embora. Minha fome por uma história foi saciada na lanchonete. Ah, minha endocrinologista só não aprovaria o sanduíche que eu comprei. 

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