sexta-feira, 2 de março de 2018

As sortes da vida






Ontem eu escrevi sobre tartarugas marinhas. No texto, eu reproduzia uma informação recebida no Projeto Tamar de que apenas uma em cada mil tartarugas nascidas chegava à idade adulta. Eu enumerei alguns fatores que possibilitavam a  vitória desta tartaruga. Meu amigo e mestre Giovanni Faria me chamou atenção: “você não escreveu que ela precisa de sorte”. 

Observação precisa do Giovanni. Afinal, diria Nelson Rodrigues: “com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua”.  

A sorte das tartarugas me fez pensar em quantas sortes são necessárias para a gente sobreviver. A primeira vem no nascimento, por certo. Ter como origem um lar em que você é amado e sua chegada é bem-vinda é sorte. Algo decidido pelo acaso e pela genética. Quantas crianças chegam à lares disfuncionais, não são amados e não conseguem chegar à idade adulta?

No entanto, a vida não depende só das sortes herdadas, depende também das sortes plantadas e perseguidas. 

Sempre se fala que para alcançar um objetivo é preciso inspiração e transpiração. Vamos então dizer que a inspiração é produto da sorte herdada. A transpiração, outro nome para o trabalho, é como se fosse a sorte perseguida. 

Considero-me uma pessoa de sorte no campo profissional. Trabalho com o que eu gosto e estudei para fazer. Há pessoas que não fazem isso. Isto não as faz desprovidas de sorte. Em muitas oportunidades, a mudança de rota entre a universidade e a vida profissional significa sucesso financeiro, por exemplo. 

Para ter sorte na vida profissional, não adianta ficar parado. Fiz muitas escolhas na minha carreira. Algumas mais baseadas na satisfação e menos na remuneração. Não sou franciscano, mas não conseguiria trabalhar em algo que abomino apenas pelo lado financeiro. Eu sou assim, acredito que se orgulhar do que faz traz um rendimento intangível chamado satisfação. 

Dei sorte também na vida familiar. Minha mulher me dá amor, cumplicidade e compreensão. Temos filhos saudáveis e do bem. Esse é o tipo de sorte perseguida. O encontro de almas é sorte, inspiração. Sustentar os laços requer dedicação e transpiração. 

Tenho muitos amigos. Como está escrito no Evangelho de São Ptolomeu: “sorrir, sorrio com todos. Chorar, choro com poucos”. Encontrar esses amigos foi sorte, mantê-los por décadas é mérito do esforço. 

E a vida segue assim, temperada pelas sortes que herdamos e os objetivos que estas sortes permitem. 

Bem, minha relação com a Mega-Sena não tem nenhum parentesco com a sorte, é azar mesmo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário