quinta-feira, 1 de março de 2018

Os ensinamentos das tartarugas marinhas








As tartarugas marinhas voltam à praia que nasceram para depositar os ovos da primeira gestação. Elas atingem sua maturidade sexual aos 30 anos, por esse tempo vagam pelos oceanos em busca de aventuras “tartarugueiras”. No entanto, há sempre um porto seguro, no caso delas, a praia segura. 

Os cientistas não sabem explicar o motivo desta “volta para casa”. O que mais impressiona é que em 30 anos o ecossistema passa por várias transformações, mas o “GPS” delas é afiadíssimo. 

Isso me fez pensar, onde é a nossa “praia segura”. Pode ser o colo dos pais, mas este, perdemos por vários motivos: a rejeição necessária à nossa independência, o afastamento para que possamos empreender nossas aventuras e as mudanças provocadas pelas navegações. É o ciclo natural da vida. 

A “praia segura” pode estar na lembrança do gosto do bolo da vó, na música que acalmava ou na fotografia de uma viagem inesquecível. 

As tartarugas marinhas não são mães controladoras. Depositam os ovos na praia e vão cuidar da vida. Os filhotes saem da casca e, guiados pela luz da lua, vão procurar seu caminho “por esse marzão de meu Deus”. 

Estatística cruel: a cada mil tartarugas que nascem, uma chega à idade adulta. É cruel, mas é natural. A tartaruga faz parte da cadeia alimentar de peixes e pássaros. 

Então ao ver uma tartaruga marinha, você constata sem medo de errar: ali está uma sobrevivente, uma vencedora. 

O que faz uma tartaruga marinha chegar à idade adulta? Várias coisas: capacidade negociação é uma delas. Fica atenta para não virar jantar de outros peixes. Elas têm competência para escolher o caminho, evitar os lugares onde viraria presa fácil. As tartarugas marinhas têm uma alimentação saudável. Elas são as únicas predadoras da água viva. Isso traz um perigo a mais. Como não enxergam muito bem, as tartarugas confundem água viva com saco plástico. O resultado desse equívoco é a morte por ingestão de lixo. Elas ainda têm que lidar com as armadilhas voluntárias ou involuntárias do bicho-homem, afinal, como aquele saco plástico foi parar dentro do mar...

Às vezes a gente esquece que todos têm uma função importante na vida. Como escrevi anteriormente, as tartarugas marinhas são as únicas predadoras da água viva. E daí? As águas vivas são predadoras das ovas dos peixes. Ou seja, se não houver mais tartaruga marinha, não haverá ovas de peixe, se não houver ovas, não há peixes, o resto do caminho deixo para que o senso fatalista do leitor complete. 

As tartarugas marinhas não são classificadas como dóceis ou agressivas. Elas são “na delas”. No entanto, se precisar, uma delas tem na mandíbula a força da mordida de um tubarão. 

Fiz um intensivo sobre tartarugas no Projeto Tamar, na Praia do Forte, na Bahia. Um daqueles lugares que a gente tem que conhecer e aprender a importância de cuidar da natureza. Não é favor cuidar das tartarugas, é para o bem do próprio homem. Dos setes tipos de tartarugas marinhas, cinco habitam o litoral brasileiro. 

As tartarugas marinhas vivem de 80 a 100 anos. Antigamente elas morriam de velhice. Hoje, podem morrer porque ficaram presas em rede de pesca e pela poluição dos mares. Além disso, elas morrem de câncer. A doença é provocada pela exposição a substâncias que o homem passou a depositar em seu habitat. 

A maior lição é que apesar dos perigos do mar, a tartaruga marinha não perde o caminho de casa. Porque a praia em que ela viu a luz da lua pela primeira vez ficará sempre impressa na sua “alma tartaruga”.  

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