sábado, 17 de março de 2018

Uma tragédia atrás da outra

O mestrado acadêmico da UFRJ tem uma disciplina chamada Amor. A aula é dada por três professores e eles fizeram um pacto. Quando um deles não puder ir, os outros dois não darão aula. Já há uma falta programada, um dos professores irá a Paris. Mais uma coisa, você assiste às aulas olhando para os colegas, pois a matéria fala sobre o amor. 

Soube desta história por um amigo que se matriculou na disciplina. Eu preparava um texto satírico. No entanto, no mesmo dia soube da morte da Marielle Franco e pensei que com amor não se brinca. 

A academia tem função de vanguarda. Deve ajudar a pensar nosso tempo e funcionar como um farol para iluminar o caminho. Talvez essa disciplina Amor, que à primeira vista parece uma “viagem”, seja revolucionária num tempo em que o desamor impera. 

Sou um ser gregário. Procuro construir pontes, tento conversar e saber quais são os motivos das discordâncias. Gosto de evitar conflitos. Não gosto de brigas, ouço as opiniões contrárias para ter direito de expressar as minhas. Tenho um mantra: “brigo as brigas que valem a pena”. 

Nunca foi tão necessário o amor. De quarta-feira para cá, o que mais se viu foi o desamor. As pessoas querendo o monopólio da verdade. Fez-se inclusive uma guerra de legitimidade entre as mortes. Meu Deus! 

O pai morto na frente do filho, o PM morto ao lado do amigo, a criança de 1 ano morta no Alemão, Anderson e Marielle são vítimas. Não se escolhe por qual morte deve os chorar. Choremos por todas. São todas trágicas, indesejadas e despropositadas. Uma vez li pichado num muro “Mais amor, por favor”!

Precisamos de empatia, resiliência, tolerância e amor. Sentir e entender a dimensão da morte de Marielle não é ignorar as outras vítimas da violência. 

Essas fronteiras borradas do que é polícia e do que ê bandido nos levam a esta situação. Um exemplo disso: as balas que atingiram Marielle e Anderson são de um lote desviado da PF. Os bandidos só tiveram acesso à munição por causa da corrupção. 

Esta corrupção é tóxica para a democracia. Existem dois lados na luta, vítimas e algozes. Com certeza Marielle, Anderson, Claudio Henrique, o pai morto na frente do filho, Jean Felipe Carvalho, o PM morto num assalto, O menino Benjamim, de 1 ano, Maria Lúcia Costa e José Roberto Silva mortos num tiroteio no Alemão estão do mesmo lado. Todos são vítimas. 

O fato é que a intervenção militar não está dando resultado. E nesse mundo sem amor temos certeza de que uma coisa é “democrática”: a violência. A cidade não tem tempo de se recuperar. É uma bala atrás da outra. Uma tragédia atrás da outra. 

Enquanto a gente briga para saber qual a morte é mais legítima, Benjamin não vai poder participar da discussão. Com um ano ainda não tinha aprendido a ler ou escrever e foi levado por essa violência. 

Mais amor, por favor!

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