sexta-feira, 9 de março de 2018

As despedidas que a vida nos impõe

Olhando o Facebook vi a carta de despedida de um sobrinho para um tio que acabara de partir. O texto era recheado de reminiscências, fatos que construíram a cumplicidade entre os dois, brincadeiras que só aquele tio fazia com ele. 

Na dor e no texto daquele sobrinho num post em rede social estava expressada uma angústia universal que nasce no peito da gente na partida de alguém que amamos. 

Todos nós, em algum momento, já fizemos este texto, ou sentimos esta dor. Um dia, provavelmente, alguém que nos ama fará esta homenagem. Sempre haverá alguém que nos ama. 

O que me chamou atenção neste post foi o nome da pessoa que morreu. Chamava-se Carlos Brito. Fiquei bem triste. Seu Carlos era ouvinte da Rádio Globo quando eu trabalhava lá. 

Aqueles ouvintes carinhosos, que opinam sobre o tema que está no ar, conversam com você como se fossem um velhos conhecidos.  

Na verdade, seu Carlos era um velho conhecido. Nossos dias possibilitam as amizades virtuais. Chancelado nesta modernidade, posso dizer que seu Carlos era um velho amigo. Sempre tinha uma palavra de carinho, comentava meus posts do Facebook, acompanhava os programas que eu apresentava , sempre de forma gentil. 

Mesmo depois que deixei a emissora, seu Carlos ainda prestigiava meus textos nas redes sociais. Eu curtia as fotos em que ele aparecia com a família. Lembro de ter curtido uma em que ele estava com os colegas da empresa em que trabalhou  por mais de duas décadas, se não estou enganado era a GE. 

Só quem já sentou para atender o telefonema de um ouvinte é capaz de entender o poder que o rádio exerce. Quem fala ao microfone entra todos os dias nas casas das pessoas. Cria-se um laço importante. Se há uma coisa que não mudou  no veículo é que rádio é companhia. 

Claro, nem tudo é exatamente maravilhoso na relação com os ouvintes. Um dos maiores comunicadores da história, não revelarei o nome dele, dizia que se fosse para falar não era “ouvinte”, era “falante”. 

Eu discordo, conversar com os ouvintes no ar é um dos grandes baratos de apresentar um programa de rádio. Você não escuta apenas sua voz, tem o retorno imediato sobre o tema em discussão. Rádio deve ser sempre uma conversa. 

Mas gostaria de voltar a falar do seu Carlos. Fiquei realmente tocado com a partida dele. Apesar de nunca tê-lo encontrado, sempre mantivemos um diálogo carinhoso. Seu Carlos torcia por quem estava no ar.

Quero aproveitar este texto para deixar  um abraço para ele. Um agradecimento por todas as vezes em que ele foi gentil nos elogios e participativo nos programas. Gente como seu Carlos nos faz lembrar que fazemos rádio para o público e não para radialistas. 

E por falar em despedidas, não tive intimidade com o Fernando Borges. Trabalhamos na mesma empresa por alguns anos, mas nossos caminhos profissionais não se cruzaram.  No entanto, na adolescência ouvi o Good Times 98. Na adolescência aquele melancolia típica da idade me aproximava do programa. Percebi em todas as referências ao Fernando carinho, admiração e amor. 

Este mundo louco e violento perde muito quando alguém do bem vai embora. Que a voz de Fernando Borges e sua arte musical confortem o coração de quem continua na batalha. 

Bons exemplos inspiram e nos fazem prosseguir na aventura. Que as boas lembranças confortem as famílias de Fernando Borges e Carlos Brito. O caminho  deles foi de luta e amor por aqui. Agora, vão virar lembranças, lágrimas e, por fim, saudade boa, daquelas que a gente gosta de ter. 

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