terça-feira, 27 de março de 2018

Dia de aprender com os alunos

As segundas-feiras são dias que fico exaurido. Tudo porque começo minhas aulas às 7h20 e vou até 13h. Depois emendo das 13h às 19h com duas aulas no mestrado. Pois é, como vocês repararam, segunda-feira este cidadão tem que sublimar o almoço. 

Na segunda vivo uma dupla personalidade. Dou aulas de manhã e tenho aulas de tarde. Em que pese minha crença que mesmo quando dou aula, estou aprendendo, a segunda dia 26 foi dia de muito aprendizado. A querida amiga Ítala Maduel promoveu o debate Jornalistas e Direitos Humanos ,na PUC-Rio. Foram convidados alguns alunos e ex-alunos que militam na área. 

Olhei com muito orgulho para gente que até outro dia estava sentada olhando para mim em busca de algo que os ajudasse a compreender a profissão. 

Bruno Alfano, Yzadora Monteiro, Carina Bacelar, Gabriele Roza , Michel Silva, Lola Ferreira, além de Caio Barreto Briso, Luiza Sansão e Edu Carvalho, os três últimos não tive o privilégio de ser professor. 

De cada um deles, poderia tirar uma lição. Do Bruno Alfano, a sensibilidade para fazer a reportagem sobre as crianças que ficaram sem aulas por causa da violência do Rio. Da Yzadora, a batalha para encontrar um caminho próprio para seguir na profissão. Da Gabriele, a noção que o papel do jornalista é de ser um grande mediador de ideias conflitantes. Lola falou um pouco de seu estilo combativo para conseguir as pautas. Da Luiza Sansão, aprendi um pouco sobre a persistência para dar murro na ponta da faca que é fazer jornalismo pelos direitos humanos. Caio mostrou como um repórter deve defender suas convicções, mesmo que a chefia o tente levar a outra direção. Carina lembrou a importância da importância de preservar a integridade profissional. Michel e Edu dividiram com a plateia a experiência de ser jornalistas e morar em comunidades. 

O que esses jovens mostraram no debate é que o caminho é longo, o inimigo é forte, mas tem gente muito capacitada combatendo o bom combate. 

Mas a fala de um  dos jornalistas fez com que eu me tocasse do tamanho da encrenca na cidade. Numa determinada favela da Cidade, três facções disputam os pontos de droga. 

Os moradores de uma faixa dominada por uma quadrilha não podem nem passar na rua sob o domínio de outra. Isso mesmo, restrições territoriais em plena cidade do Rio de Janeiro. 

Muito se falou que com o Muro de Berlim, famílias ficaram separadas por quase três décadas. A queda do muro da vergonha foi muito comemorada. No entanto, bem aqui, no estado sob intervenção militar, há um muro de demolição muito mais difícil. 

O medo, a inoperância e o terror são a argamassa desse muro. Enquanto não for compreendido que, para cair, esse muro precisa muito mais do que operações militares. Caso contrário, ele vai ficar cada vez mais firme. 

Jornalismo é dar visibilidade aos que precisam, lutar contra a intolerância religiosa, contar histórias que sirvam para melhorar a sociedade, é não se calar diante de injustiças, dar voz a quem não consegue falar. Por isso, me sinto orgulhoso de fazer parte desta tribo. Tribo que tem combatentes tão aguerridos. 


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