segunda-feira, 19 de março de 2018

Eu no show da Katy Perry

Certamente eu era a pessoa presente na Praça da Apoteose que menos conhecia o universo Katy Perry.  Não sabia fazer nem nã-nã-nã de suas canções. Na verdade, no decorrer do show descobri que já tinha ouvido alguns sucessos da cantora. 

Fui parar na missão “Show da Katy Perry” porque minha comadre, que levaria minha filha ao espetáculo, teve um compromisso de trabalho. Ser pai é padecer no Paraíso. Lá fui eu em direção à passarela do Pop. 

Para começar, entrei na fila errada. Ficamos 10 minutos lá parados, até que uma boa alma do staff avisasse a fila certa. 

Eu, minha filha e dezenas de incautos saímos correndo para a fila certa. Amigos que me dão o privilégio da leitura, tenho uma confissão. Esperei 46 anos para entrar na maior fila da minha vida. 

À espera foi uma experiência antropológica. Do lado de fora os ambulantes tinham sotaque, nordestino, paulista e até castelhano. A periferia do show de Katy Perry era uma babel. 

Enquanto esperávamos fui mostrando à minha filha algumas siglas e o que elas representavam. Eram siglas de facções minha filha ficou preocupada. Se fossem rivais, estávamos em território perigosos. Se estivessem unidas, a polícia iria ter trabalho. A tranquilizei mostrando a quantidade de policiais fazendo a segurança do show. 

Aliás, acho que o prefeito do Rio deveria aproveitar a vizinhança e percorrer as ruas perto do sambódromo. A área está degradada. Tão perto da prefeitura, tão longe do prefeito...

Mas vamos voltar ao show. Eu perdi as contas das vezes que fui à apoteose. Minha filha debutava no espaço. A sorte nos sorriu para abreviar meu sofrimento, apesar de grande, a fila andou ligeiramente.  Em cerca de 45 minutos conseguimos entrar na Apoteose. 

Antes, ouvimos na fila uma versão forrozeira de Tale on me, do A-Ha. Aquele triângulo feriu de morte a lembrança adolescente que tinha da música. Mas seguimos em frente. 

Quando cheguei ao local do Show, percebi que o cenário era uma cópia do logotipo do Grupo Bandeirantes. Só que no centro, os olhos de Katy Perry pareciam vigiar tudo. Senti-me no Big Brother. Por favor, no do George Orwell, não no do Boninho. 

Vi vários alunos no show. Como estava vestido de pai e eles com as roupas da liberdade, resolvi não interromper. Vi uma que teria aula comigo as 7h da manhã de segunda, oito horas após o fim do show. Coitados de nós. Bem, ela não apareceu. 

Katy Perry subiu ao palco “pontualmente” com 55 minutos de atraso. E reforçou em em mim a impressão da primeira vez que vi um show dela na televisão. É uma imensa brincadeira. 

Depois de apresentações pelo Rock’n Rio, a moça se sente à vontade no Brasil. Irritou-me um pouco o esganiçado para falar Riiiiooouuu. Mas os Cat Katy’s achavam tudo lindo. 

Ela entrega o que promete aos ávidos fãs. Coreografias engenhosas, recursos cênicos que misturam projeções e alegorias. Um luxo. Se trocassem a trilha sonora, o diretor do show poderia assinar como carnavalesco um desfile de escola de semana. Tudo muito apropriado à Marquês de Sapucaí. 

Como não conhecia as musicas, para mim o show foi uma grande viagem visual. Se fosse usuário de psicotrópicos, acho que eu iria entrar numa “viagem” muito louca com as trocas de projeção. Como sou da Fanta Uva e estava com minha filha, fiquei nas viagens que minha louca mente proporcionou. 

O que me despertou dos devaneios foi  o momento em que a a foto de Marielle Franco substituiu as projeções futuristas do cenário. A filha e a irmã da vereadora morta foram ao show e a cantora prestou uma homenagem à Marielle. O público fez um minuto de silêncio e depois retomou o barulho com gritos de “Fora Temer”. Parece que a intervenção não fez a popularidade do presidente subir...


Ficou faltando a Gretchen. O show teve uma hora e meia e consegui chegar rapidamente em casa. Sentindo o peso da idade,  lembrei de muitos shows que vi na Apoteose. O mais marcante ocorreu há 32 anos.  Caetano Veloso se apresentou lá. No meio do show subiram ao palco Milton Nascimento, Chico Buarque e Mercedes Sosa. Foi um dos momentos mais sublimes da minha vida de fã. 

Bem, do show da Katy Perry vou lembrar do prazer da minha filha e da incrível dor nas costas que me castiga enquanto escrevo este texto. 




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