sábado, 10 de março de 2018

Crônicas de viagem: Bahia I (cuidados)









Amigos, fiz recentemente uma viagem a Salvador. Que lugar mágico! Um belo cenário de cidade, como dizia a poetisa britânica Elizabeth Bishop a respeito do Rio de Janeiro. Fazendo uma leitura otimista da cidade, para onde você olha na orla, vê beleza. Salvador  tem mazelas, pobreza e desigualdade social como em vários cantos do Brasil. Pareceu aos meus olhos de turista um belo lugar para se viver. Vou louvar a capital baiana em outros textos, mas esse é sobre os cuidados que você deve tomar por lá. 

Eu e minha mulher resolvemos conhecer o Pelourinho numa sexta à noite. Haveria uma apresentação de um grupo de teatro de rua que encenaria trechos de obras de Jorge Amado. O cenário seria nas ladeiras e sobrados do “Pelô”. 

Apesar de termos alugado um carro, decidimos ir de táxi. Eu já estava meio cansado de brigar com o GPS, além de ter a intenção de tomar uma cerveja. 

Pegamos o carro na porta do hotel, pertinho do Farol da Barra e nos dirigimos ao Pelourinho. Não me sinto capaz de dizer se o caminho do taxista foi o mais curto. O fato é que demoramos 25 minutos até o local. Quando chegamos ao Terreiro de Jesus, fomos pedir informações a um homem.

O diálogo foi assim. Observação: ao ler os trechos com as falas do cidadão, ponha em sua mente a sonoridade daquele irresistível sotaque baiano. 

- Amigo, por favor, queremos saber onde está o grupo que encena trechos de obras do Jorge Amado. 

- É perto de minha casa. Vocês são de onde?

- Somos do Rio de Janeiro. (dispositivo “vou ser enrolado começando a disparar”)

- Ah, adoro gente do Rio de Janeiro. Conheço gente nos bairros de Botafogo, Humaitá e Macaé.

Decidi não interromper e explicar que Macaé não é bairro, mas sim uma cidade a um 200 quilômetros do Rio. A fala prosseguiu. 

- Estou louco para comer macaxeira e estou sem dinheiro. Vocês poderiam me ajudar? A mercearia é no caminho...

Pagaríamos pela informação, ok, não há almoço de graça. Aceitamos o pedido. O fato é que atrasados para ver o espetáculo na rua, entramos numa mercearia. 

O que seria uma macaxeira virou a compra de um pacote de farinha, outro de arroz, óleo para cozinhar e feijão branco. Quando nos aproximávamos do caixa, nosso guia olhou para o vendedor e pediu um “pedacinho de carne seca”. 

A conta deu R$ 42,00 reais. Neste momento, despertei do raio hipnótico daquele sotaque e disse:

-Peraí, não vou levar tudo. 

Nosso guia falou: 

- Tire a farinha

Eu repondo

- tira mais coisa. 

Ele cedeu:

- Tire o feijão. 

Resultado, a conta baixou para R$ 31,00. Ele então tentou mais uma coisa:

- Tome esses R$ 4,00. É o dinheiro de minha passagem. 

Não me fiz de rogado, peguei o dinheiro dele e reduzi a “extorsão” para R$ 27,00. 

Sobre a apresentação do grupo de teatro falarei em outro texto. Posso adiantar que é sensacional e emocionante. Parece que você entrou num dos livros de Jorge Amado. 

Resolvemos voltar ao Pelourinho no dia seguinte. Falei com Ana Claudia que usaríamos a tática do meu sogro. Quando ele está numa roda e tem alguém chato, ele evita o campo visual da “mala”. Assim, ele se poupa da conversa inconveniente. Meu sogro, não sabia, mas usa a mesma tática de Tom Jobim. O maestro usava óculos escuros para evitar encontros indesejáveis e dizia: “chato pega pelo olho”. 

Então a gente não olharia ninguém. Nossa tática foi pouco eficiente. Ao primeiro descuido um vendedor licenciado nos capturou, nos encheu de fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim, cordões e colares. 

Eu olhava para minha mulher e dizia com os olhos: “caímos de novo”. Pagamos 40 reais por colares que não queríamos, fitinhas que não eram tão necessárias e um cordão que não valia a pena. 

Andamos então da Praça Castro Alves ao Elevador Lacerda. A construção é bonita, a visão da Baía de Todos os Santos é encantadora. Eu e Ana Claudia compramos então as passagens de R$ 0,15, entramos no elevador e nos preparamos para a vista...

Bem, quando o elevador se movimentou começamos a rir. O Elevador Lacerda não é panorâmico! Não há lugar algum dizendo que é. Nós tiramos isso de nossas cabeças. Afinal, o Elevador Lacerda é apenas um meio de transporte. 

Esses pequenos "7X1" foram muito pouco representativos do que foi nossa viagem a Salvador. Como já disse, as partes sensacionais da viagem serão escritas em outros textos. Este foi para informar aos desavisados, entre outras coisas, que o Elevador Lacerda é apenas um elevador


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