sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Piada ou filme terror

Estamos diante de uma situação inusitada. Três pessoas de uma família viram um nicho em que poderiam atuar e decidiram empreender uma ideia. Outros dois compraram o projeto e agora estão prestes a conseguir o que jamais pensaram que seria possível. 

Parece uma história de startup nascida numa garagem que conquistou o mundo, mas é na verdade a trajetória do líder das pesquisas de opinião no Brasil. É preciso entender como um deputado do baixo clero, amalucado, quase tosco, conseguiu ter 51% entre os eleitores que ganham mais de 5 salários mínimos e mais de 40% entre as pessoas que cursaram o ensino superior. 

Quem chega de Marte e vê esses números pensa: “ah, então esse é o candidato dos ricos”. Não, ele lidera também entre as pessoas que ganham de 2 a 5 salários mínimos, ou seja, quem tem renda mensal entre R$1800 a R$4500, o que definitivamente, não classifica alguém como abonado. 

Esse líder das pesquisas diz que a filha mulher que teve foi uma fraquejada. Devido às frequentes declarações, homofóbicas, racistas e machistas, arma-se um imenso movimento popular e milhões de mulheres vão às ruas para repudia-lo. Resultado: esse candidato sobe na preferência do eleitorado feminino, e torna-se o mais votado entre as mulheres. 

Bolsonaro ganhou projeção como chacota. Presença frequente no CQC, em que os repórteres o entrevistavam para ouvir suas barbaridades. Também era convidado constante no programa de Luciana Giménez, na Rede TV. Além dele, outra presença frequente da atração era a de INRI Cristo, um catarinense que se diz a reencarnação de Jesus. 

Ao que parece o público se identificou mais com o discurso de Bolsonaro do que com o do companheiro de programa, pois ao que se sabe, não há movimento para colocar INRI no Vaticano e unificar o culto cristão no mundo. Do jeito que as coisas andam, é melhor nem dar ideia. 

E por falar nisso, o candidato é cristão, mas já disse que o problema da Ditadura foi torturar e não matar. Ou seja, parece ter lido a Bíblia com edições. A parte de amar ao próximo como a ti mesmo não estava na versão que chegou às mãos de Bolsonaro. 

O capitão vai passar bem perto de vencer a eleição no primeiro turno. E com a consistência de uma equipe formada por ele, os dois filhos deputados, o economista liberal Paulo Guedes e o vice, general Hamilton Mourão...

Bolsonaro está liderando as pesquisas quase por inércia após a facada que sofreu em 6 de setembro. Ficou “café-com-leite “, pois não ficava bem bater num candidato acamado. Quando recebeu alta, não foi ao debate da Globo e preferiu dar entrevistas chapa-branca. Aliás, TSE, pode isso? O candidato pode dar um entrevista ao canal controlado por um pastor que declarou voto nele? O poder judiciário tem total responsabilidade pelo que vier a acontecer após uma eventual vitória de Bolsonaro. Peca-se por ingerência política, como fez o “impoluto” Sérgio Moro, e peca-se por omissão, como agiu, ou melhor, como deixou de agir o TSE. 


Apoiado no medo de muitos, no ódio de outros tantos, no obscurantismo de vários e na tutela religiosa, o que começou como piada pode acabar em uma retumbante vitória. O problema é o que virá depois. Tem muito jeito de ser o sentimento de frustração que vem após uma piada de mau gosto. No entanto, uma piada é só uma piada. Neste caso, o que pode vir é um filme de terror que já assistimos, mas não aprendemos com o final. 

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