sábado, 20 de outubro de 2018

Os preços no mundo da lua

Um pedaço da lua foi vendido por US$ 600 mil. O meteorito pesa 5,5 kg e foi encontrado na Mauritânia no ano passado. Um grupo religioso comprou o pedaço de pedra e vai deixá-lo exposto num templo no Vietnã. 

Essa notícia traz algumas implicações. A primeira e mais pragmática. Os preços praticados na lua são inviáveis. São cerca de R$ 2,2 milhões por um pedaço de pedra de 5,5 kg. Para que o leitor tenha uma ideia, esse meteorito custa o mesmo que um apartamento de 100 metros quadrados no Leblon. Fazendo uma projeção, um lote de 100 metros quadrados na Lua deve se aproximar da casa do bilhão de reais. Ou seja, a especulação imobiliária já começa a deixar suas marcas no nosso satélite natural. 

Outra implicação é o fim do romantismo com a lua. A idílica cena de casais enamorados a contemplar o luar vai perder todo charme. É impossível manter qualquer idílio pensando num lugar em que um pedaço de pedra de 5,5 kg vale a mesma coisa do que um apartamento de 100 metros quadrados no Leblon. Se não existe amor em SP, certamente não existe amor na Lua, ainda mais a esse preço. 

Um pedaço de pedra que vale US$ 600 mil pode gerar a cobiça nas empresas que vivem do capital especulativo. Vender títulos imobiliários da lua, algo que era visto como uma espécie de conto do vigário, pode ser um negócio muito vantajoso. Só seria necessário definir a quem pertenceria a lua. Aos EUA, o primeiro país a ir lá? Seria de algum príncipe árabe, que em fase de diversificação de investimentos, deixaria de comprar times de futebol da Europa, para se apropriar de lotes lunares. Minha aposta seria a China. Eles estão comprando tudo, além disso, o grande número de chineses na Terra provoca a necessidade de buscar opções. 

A partir da definição da propriedade da lua, viria a inevitável cobrança de royalties pelo uso da marca. Todas as musicas com a palavra lua, em todos os idiomas, deveriam parar de ser executadas. A menos que houvesse um acordo com os donos do satélite. Deveria haver a montagem de ECAD planetário para agilizar as cobranças. Talvez isso complicasse um pouco a arrecadação. 

A viagem que os pombinhos fazem depois do casamento teria que mudar de nome. Aquelas pessoas consideradas loucas não poderiam mais ser chamadas de lunáticas, já que seriam registradas todas as palavras relacionadas. 

A venda de um pedaço da lua de 5,5 kg por US$ 600 mil ensina que o preço de alguma coisa depende da oferta dela no mercado. O que hoje é o mais comum dos objetos, daqui a 200 anos pode valer uma casa. É impossível separar o objeto do contexto em que ele está. São as pequenas lições que o capitalismo nos dá. 

Esse texto escrito levianamente como exercício de futurologia nunca ganhará o valor de inestimável obra literária. Mas poderá parecer óbvio daqui a 100 anos, quando até a lua terá donos. Imaginem as almas de quem por aqui estiver. 

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