sexta-feira, 26 de outubro de 2018

As razões do meu voto

Não achei que veria uma campanha tão sangrenta novamente. Em 1989, eu participei da minha primeira eleição. Foi uma algazarra aquela cacofonia dos diversos candidatos. Confesso nostalgia pelos jingles inesquecíveis. Havia algo de lúdico naquilo. O Collor venceu, mas votamos e fizemos oposição. 

Dali em diante, o compromisso de dois em dois anos se renovou. Não reclamo de ter que ir à seção eleitoral. Votei escrevendo nome em cédula e agora voto digitando. A vida muda. 

O que não mudou de 1989 para cá foi meu lado. E por isso elenco as minhas razões. Em que pese o fato de Fernando Haddad ser um professor bem preparado e democrata, as razões do meu voto são mais contra do que a favor. Como disse um dos meus oráculos no jornalismo, tem uma linha que o eleitor deve traçar. Eu tracei a minha. Minhas 13 razões para não votar em Jair Bolsonaro. 

1) Pelo meu pai. O velho Creso era getulista e brizolista. Conversou comigo sobre o que acontecia no país. Acho que devo meu voto a ele num momento extremo como esse. Não quero que ele saia do céu para se ocupar de dar umas boas palmadas em mim. 

2) Pelo que aprendi com a minha mãe, Dona Alzira., a mulher mais forte que conheci. Olhando para o seu 1,47 m nunca pude pensar em “fraquejada”. Sair do Nordeste, com 38 anos, e sete filhos não é para qualquer um. Mas ela veio e eu estou aqui. 

3) Pela minha filha. Não quero que ela ande com medo na rua. O mundo da testosterona que prende e arrebenta e quebra placas de vereadoras assassinadas deve ser combatido pela lei. Não incentivado e premiado com vitórias nas urnas. 

4) Pela minha profissão de jornalista. Nunca o jornalismo profissional foi tão necessário. É lanterna que joga luz no obscurantismo, bússola para impedir a chegada do autoritarismo. Bastião no combate ao império das fake news. 

5) Pela minha profissão de professor. Pela livre cátedra, pelo debate das ideias. Pelo dever de formar com diálogo e em meio a posições dissonantes. Voto contra a censura que os TRE’s e o TSE impuseram nesta eleição. 

6) Voto contra a violência. Contra a ideia que se metralha os adversários. Voto contra a ideia de ter inimigos. Não acredito que seres humanos possam se referir a outros seres humanos como pestes que precisam ser exterminadas. 

7) Voto contra o excludente de ilicitude. Não se pode dar licença para matar ao policial. Deve-se dar condições dignas de trabalho a ele e aos mais necessitados. 

8) Voto contra a ideia de “direitos humanos para humanos direitos”. Voto pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

9) Voto contra a xenofobia. Voto pelo direito de ser oposição sem ser expurgado para a cadeia ou para fora do país. Voto pelo direito de ser oposição sem precisar ser exilado. 

10) Voto contra a repressão. Voto pela liberdade, bem universal dos seres humanos. 

11) Voto contra a venda indiscriminada de armas. Revólveres, pistolas e espingardas foram feitas para matar. As armas aumentam a violência e não a segurança. Voto para que minha mulher, meu filho e minha filha tenham um mundo menos violento. 

12) Voto contra a intolerância. Voto na diversidade. Não se deve ficar insensível ao drama de negros e gays. Não há “coitadismo”, há violência. 

13) Voto na democracia. Ela pode ter nos legado governantes imperfeitos, mas foram nossas escolhas. Eu lembro de como era na época em que a gente não escolhia os presidentes. Era bem pior. 




Um comentário:

  1. Credo, suas razões são mais do que legítimas. Penso da mesma forma! Parabéns pelo excelente texto!

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