domingo, 7 de outubro de 2018

O voto do medo e do ódio

O cara que quebrou a placa da rua Marielle Franco e postou nas redes sociais se tornou o deputado estadual mais votado do Rio. O nome dele é Rodrigo Amorim e faz parte do PSL, partido de Jair Bolsonaro. Então, um grande número de pessoas referendou a infâmia patrocinado por essa pessoa. 

É terrível pensar que talvez o deputado estadual mais votado do Rio desconheça um termo chamado empatia. Ele ignorou o fato de Marielle ser uma representante do povo assassinada covardemente e na sua sanha pela barbárie, postou aquela foto. Perdão, nobre deputado eleito, semanticamente, o senhor matou Marielle novamente. 

Um sábio amigo descreveu a votação maciça que o Rio de Janeiro deu a esse senhor: uma sociedade de monstros. Eu acrescentaria a palavra sádicos. Se fosse possível, Amorim deveria responder um processo de quebra de decoro antes de tomar posse. Aliás, o honrado Ministério Público Eleitoral deveria se manifestar. 

No entanto, estamos num jogo em que parece tudo um lado poder e o outro não. A esmagadora votação em Bolsonaro no Rio deve ter envergonhado cariocas históricos que não estão mais por aqui. 

O estado que elegeu Leonel Brizola governador em plena Ditadura, berço do samba, da Bossa Nova e inventor da democracia social que é a praia como espaço de convivência deu seu recado. A expressão “Sol, sal e sul” da canção se transformou em medo, ódio e intolerância. 

Algo não ia bem quando a cidade optou por Marcelo Crivella, em 2016, mas agora veio a conta pesada. As expressivas votações em Wilson Witzel, Flávio Bolsonaro e Rodrigo Amorim mostram o voto “com o fígado” que os cidadãos do Rio resolveram depositar nas urnas. 

Alguns relatos que mostram o que poderá vir até o dia 28, talvez depois: um homem partidário do PSOL chegou às chamadas vias de fato com um adepto de Jair Bolsonaro. Numa rua em Laranjeiras vizinhos de prédios diferentes ficaram por 10 minutos se xingando por causa das preferências partidárias. Uma milícia bolsonarista (não consigo encontrar outro termo) foi à Praça São Salvador e disparou tiros para o alto, provocando e apavorando os adversários políticos. 

O inadmissível é que mesmo chegando muito na frente, Bolsonaro ousou questionar a lisura do pleito, dizendo que se não fossem os problemas da urna, teria liquidado a fatura no primeiro turno. Ou seja, já criou um clima para provocar instabilidade. 

O “nós contra eles” será dos dois lados da trincheira.  A tarefa do PT será muito difícil e se continuar sendo uma tarefa para o PT é luta perdida. Ou o partido faz um sinal ao centro imediatamente, realiza a autocrítica possível durante uma disputa eleitoral e segue em frente, ou amargará uma grande derrota. E essa não é a hora de se calar, o silêncio pode custar caro. 

Encerro citando Chico Buarque, na canção Cálice que tem 45 anos mas está atualíssima:

“ Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa”


O monstro está emergindo e atordoa. 

9 comentários:

  1. Perfeito Creso, se uma autocrítica salvará o Haddad eu não sei, mas que me faria menos triste, sim faria.

    ResponderExcluir
  2. Excelente texto meu amigo. Vou compartilhar.

    ResponderExcluir
  3. Esse medo, ódio e intolerância sempre estiveram presentes...só que se escondiam nos votos em Aécios da vida. Só que agora eles ganharam voz e perderam a "vergonha" ao se expor. Muitos também adoram um discurso falso-moralista em que possam descontar suas frustrações e esconder suas perversões. Infelizmente o povo brasileiro é atrasado e hipócrita. Na medida certinha pra esses monstros emergirem das profundezas da ignorância e da insensatez.

    ResponderExcluir