segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O arroz-de-polvo (receita do Creso)

Compre 1,5 quilo de polvo. Tem uma coisa que é muito importante. Peça ao vendedor que limpe para você. Eu, por exemplo, não tenho habilidade para limpar bem. 

Coloque duas cebolas junto com o polvo na panela de pressão. Deixe no fogo médio por um tempo. Quando a panela de pressão começar a fazer aquele barulho característico, conte quinze minutos e apague o fogo. 

Paralelamente a isso, prepare duas canecas de arroz branco. Nunca tentei com arroz integral. Preparar o arroz é aquela história, refoga com alho, sal, azeite (eu coloco uma pimenta do reino para dar gosto). Depois, coloque água. 

Neste meio tempo, já deu para abrir a panela de pressão. Retire o polvo. Não descarte a água. Corte o polvo em pedaços médios. As cebolas estarão quase se desmanchando. Separe-as em camadas. 

Coloque tudo na panela do arroz e espere ficar pronto. Um vinho branco é um bom acompanhamento para este prato que serve quatro pessoas. Eu gosto muito. 

Toda vez que vou para a cozinha, penso na minha mãe. Ela se surpreenderia com a desenvoltura que tenho ao preparar alguns pratos. Na verdade, além de desenvoltura, tenho prazer em cozinhar. 

Quando me proponho a fazer esses pratos, gosto de ficar sozinho. Ponho uma playlist no Spotify e vou à luta. Canto, repito as musicas preferidas e deixo a cozinha uma zona. Minha mulher até reclama. Mas depois eu dou um jeito. 

Cozinhar o polvo é um desafio. Tem que saber o ponto exato, para não deixar que ele fique borrachudo. Se ele não ficar tenro, parece chiclete sem gosto. 

Aos amigos que chegaram até aqui e estão curiosos, explico a razão do post gastronômico. Escrevi um post sobre o quão nocivo pode ser o discurso de ódio na nossa sociedade. Sempre que escrevo, meus canais de divulgação são o Facebook, o Twitter e o WhatsApp. 

Num grupo de jornalistas do WhatsApp que eu participava, os moderadores me disseram que informações políticas estavam vetadas. Não vem ao caso dizer quem são os moderadores e qual era o grupo. Abaixo, transcrevo o texto que escrevi ao justificar minha saída. 

“Amigos, como acredito que o momento exige tomadas de posição, tendo em vista que a nossa profissão está sendo vilipendiada e ameaçada. Peço licença para sair do grupo. O silêncio também é uma posição política. Se vocês preferem isso, ok. Tenho o maior respeito pelas opiniões do restante do grupo. Uma jornalista sentada no Leblon sendo ameaçada por estar com adesivo do HAddad é assustador. Não me calarei. Há outros canais de divulgação. Um grande abraço. Que o jornalismo não morra, nem a opinião diferente”. 

Escrever sobre arroz de polvo num momento como esse é também uma tomada de posição política. Às vezes o silêncio é a mais eloquente das manifestações. Só não dá para se dizer enganado depois. 



4 comentários:

  1. Amigo pegue mais receitas na minha pagina no Facebook- @passamainacozinha ou no instagran - @chefmarcelopassamai. Mas o momento é esse, muita calma nessa hora!

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  2. Chefia, achei bem interessante esse seu momento gastronômico.
    Afinal, não importa o momento que vivamos, comida é o que une.
    A propósito, esse polvo é só com os tentáculos ou é com a cabeça também?

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