sábado, 6 de outubro de 2018

Os 46%

Os 46% que não votariam em Jair Bolsonaro de jeito nenhum terão um sábado de reflexões e sobressaltos. Há pessoas que participam da “festa da democracia” há 29 anos e que sempre chegaram à cabine de votação absolutamente conscientes do que fariam. No entanto, a polarização deste ano fez com que a dúvida se instaurasse em suas almas. 

Esses 46% estão diante de dois caminhos: colocam Haddad no segundo turno e se arriscam numa disputa acirrada em que só vai valer golpe “da cintura pra baixo”, ou colocam Ciro Gomes, um político mais tradicional que, em tese, teria mais condições de derrotar Jair Bolsonaro. 

Então é isso, esse cidadão resolve votar no pedetista, porque é uma forma mais segura de derrotar Bolsonaro. Mas no minuto seguinte, volta a se exasperar. Vota no Ciro, mas não é suficiente para ele passar o Haddad. Aí, o petista chega em segundo, mas vê o candidato do PSL abrir uma ampla vantagem já no primeiro turno. Passando com números muito superiores ao do oponente, os militantes pró-Bolsonaro trabalharão com muito mais estímulo do que os do adversário. 

Os 46%, ah esses 46%, preferiam ter o Geraldo Alckmin como adversário. Opa, alguns desses 46 são eleitores do Alckmin. É bem verdade que são uma minoria. 

Quando veem o silêncio do TSE diante da trapaça eleitoral de faltar ao debate e dar uma entrevista no mesmo horário a outra emissora, os 46% aumentam o temor sobre tudo que pode acontecer se a vitória do capitão ocorrer. A impressão que se tem é que o jogo será com suas regras, se não conseguir o que quer, virará a mesa. 

A placa da rua com o nome de Marielle Franco quebrada por orgulhosos apoiadores do capitão e as milícias bolsonaristas na praça São Salvador dando tiro para o alto despertam nos 46% a estranheza pelo fato de não serem 92%. 

Mas aí vem o despertar da realidade. A fábrica de produtos plásticos diz que se Bolsonaro vencer no primeiro turno não haverá expediente na segunda. Em vez de trabalho, churrasco e chopp. O diretor da escola manda uma carta recomendando aos professores e funcionários que votem em Bolsonaro. A outra escola proíbe livro a pedido de pais porque a obra  seria “comunista”. 


Os 46% olham pela janela, as nuvens lá fora encobrem a paisagem. O cenário parece espelhar o estado de espírito. Não se sabe para onde ir e nem como proceder. Só uma coisa é certa. Tem que sair de casa e votar, porque se omitir pode ser bem pior. Se você acha um saco esse negócio de eleição presidencial, lembre-se, ficamos 28 anos sem votar para presidente, num tempo que parece mais próximo do que a gente gostaria. 

5 comentários:

  1. Esse foi o melhor e mais inteligente texto sobre as eleições, que li até agora. Parabéns!

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  2. É isso aí. Quem é de rezar, tá na hora. Quem é de lutar, também.

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  3. Lula e o PT fizeram o monstro Bolsonaro e, em seguida, com sua sede de poder e ganância podaram a candidatura de Ciro - a melhor chance de derrotar o monstro.

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