segunda-feira, 29 de outubro de 2018

E agora, Brasil?

Diante de uma turma de universitários, muitos atônitos e de preto, tentávamos buscar explicações para a vitória de Jair Bolsonaro. Foi um desafio extra às 7h da manhã do dia seguinte da vitória do candidato do PSL. Eu e meus amigos Alexandre Caroli e Itala Maduel conversamos, acolhemos e discutimos, entre outras coisas, o que será do jornalismo no Brasil daqui em diante. 

Acho que é necessário entender Jair Bolsonaro como um fenômeno midiático. De forma alguma deve ser desprezada a carga ideológica de seu discurso, mas entender como foram propagadas essas ideias.  Como um candidato do baixo clero da Câmara, considerado folclórico e fanfarrão, foi eleito por 57 milhões de pessoas pra presidir o maior país da América Latina. 

Entender o fenômeno midiático é fundamental para combater no mesmo terreno que os divulgadores de fake news atuam. Para remediar a desinformação manipulada, só agindo no mesmo campo. Para combater o império da mentira só criando um império de jornalismo independente. 

A equipe de campanha de Bolsonaro ainda precisa ser desnudada. Além das suspeitas da participação de Steve Bannon, estrategista chefe de Trump, quem mais está por trás desta estratégia vitoriosa?  Isso é trabalho para jornalistas. Apuração, um dos pilares da profissão. 

Temos que seguir adiante com os instrumentos que a democracia nos coloca. Nunca foi tão necessário o jornalismo profissional. É preciso apurar, fiscalizar e denunciar caso haja alguma violação aos direitos humanos ou à liberdade de expressão.   

Existe também a necessidade de encontrar a paz em casa. Pode parecer um jogo de contente. Dentre os alunos, muito país votaram em Bolsonaro. Acho que é um exercício de empatia entender o voto no candidato do PSL. Esvaziar o espírito e chamar atenção para o que pode nos esperar a partir de janeiro. 

A live” da vitória de Bolsonaro refunda as relações de poderosos com os meios de comunicação tradicionais no Brasil. O recado de Bolsonaro foi claro: “não preciso de vocês pra me comunicar com o público, a intermediação será nos meus ternos”. Para representar isso, a TV Globo teve que se conformar a fazer parte de um pool de emissoras e a entrevista foi feita sem a tradicional canopla no microfone. 

Bolsonaro quer desestabilizar as instituições tradicionais. Em vez de ir nos partidos, foi nas frentes parlamentares. Em vez de negociar apoios dentre os empresários da mídia usou bem o que a tecnologia digital colocou à disposição. Uma consequência da vitória bolsonarista é a constatação de que o tempo de TV não precisa mais ser motivo para “vender a alma”.  Geraldo Alckmin tinha o maior tempo de TV e amargou 4% dos votos válidos. 

A sempre poderosa TV Globo terá que se adaptar a uma nova realidade. O apoio de Edir Macedo e o fato de Bolsonaro ser evangélico deslocam o eixo de influência. O grupo dos Marinho sempre foi hegemônico nessas relações com o poder. 

Melhor apertar os cintos. O mergulho foi no escuro. Mesmo no discurso da vitória as propostas não foram detalhadas. Não sabemos qual será o país a partir de 1º de janeiro de 2019. Existe o medo que o monstro tenha emergido, mas sempre há a esperança de que as declarações homofóbicas, misóginas, racistas e fascistas tenham sido bravatas para ganhar a eleição. 

O fato é que Bolsonaro venceu as eleições com uma votação expressiva, abrindo quase 11 milhões de votos em relação a Fernando Haddad. Que o presidente eleito ajude a controlar os cachorros loucos que seu discurso libertou. Porque ele deve lembrar, que, se 57 milhões de pessoas votaram nele, 90 milhões disseram não, se somados os votos de Haddad, os nulos e as abstenções. 

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