sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Os fiscais do TRE e os agentes do DOPS

 Sou um professor universitário, logo sinto-me atingido diretamente pelo que fizeram os Tribunais Regionais Eleitorais em 9 estados coibindo protestos em universidades. Por ser o mais próximo a mim, vou começar pelo caso da Universidade Federal Fluminense. 

A UFF foi uma das 17 universidades com ações de fiscais eleitorais. A juíza Maria Aparecida da Costa Bastos determinou a retirada de uma faixa com os dizeres “UFF Antifascista “. Na sentença, a juíza menciona uma “distopia simulada contra Jair Bolsonaro”. Ê curioso que pouco menos de uma semana depois, um magistrado use a expressão em decisão favorável à Jair Bolsonaro. A menção anterior foi do ministro do TSE Luiz Felipe Salomão. Ele usou esses termos ao mandar retirar do ar uma peça de propaganda do PT em que uma vítima de tortura contava seu drama e denunciava um dos ídolos de Bolsonaro: o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

O diretor da faculdade de Direito, Wilson Madeira, disse que os fiscais do TRE-RJ entraram nas salas de aula e questionaram o conteúdo que estava sendo dito pelos professores em sala de aula. 

Caros magistrados, não há distopia simulada quando fiscais do TRE se travestem de agentes do extinto DOPS e coagem alunos e professores numa universidade pública. Então as decisões de vossas excelências acrescentam mais um ingrediente nessa espiral do retrocesso: a censura. 

Ao inferir que uma faixa “UFF Antifascista” faz propaganda contra Jair Bolsonaro, a juíza de Niterói admite que não há uma distopia simulada contra o candidato. Pois se ele não representasse o fascismo, uma faixa com esses dizeres jamais poderia ser considerada contra o ex-capitão. 

E na distopia real em que vivemos, fiscais do TRE da Paraíba foram à Universidade Federal de Campo Grande num evento a favor da democracia. Lá questionaram os professores e alunos quanto ao que era ensinado nas aulas e quiseram verificar se havia material de campanha. 

Em setembro de 1977 dois mil militares invadiram a PUC-SP e acabaram com uma assembleia universitária. Os estudantes foram encurralados e o prédio foi depredado. Não foi distopia simulada, foi repressão, pancada e gás lacrimogêneo. Está nos livros, está na história. 

A triste impressão que se tem  é que no país que se aproxima da distopia novamente, os fiscais do TRE são os batedores da tropa que pode invadir as universidades. Os sinais estão todos aí. Não vê quem não quer. E os mais expostos são os jovens, são meus filhos, nossos filhos. 

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