A bela imagem da areia caindo na ampulheta é simbólica de um tempo que não existe mais. Estamos na era dos milésimos de segundo, da perseguição pela internet mais rápida para transmissões em tempo real. Ê o tempo das pulsações cardíacas mais aceleradas e da pressão arterial mais elevada. A era do stress continuo.
Temos carros cada vez mais velozes, mas paradoxalmente, diminuímos a velocidade média nas grandes cidades. E a nossa impaciência só cresce. Se você quiser calcular o que é um décimo de segundo é fácil. É o tempo de um sinal ficar verde e o barulho da primeira buzina.
E aquele relógio público, que era praticamente uma obra de estilo clássico, chega ao século 21 digital. Essa tendência já havia começado nos anos 1980, diga-se de passagem. No entanto, os relógios foram ganhando mais funções com o passar do tempo. Alem da hora, as temperaturas passaram a ser informadas. Depois veio a propaganda estática. Em São Paulo, por exemplo, informa-se a qualidade do ar. E agora a publicidade é rotativa e mais cativante.
Em meio a este ritmo frenético, o mundo nos mostra que é possível em alguns casos congelar o tempo. Arqueólogos descobriram no Mar Negro o navio naufragado mais antigo do mundo. A embarcação tem mais de 2.400 anos. Segundo especialistas, a preservação foi possível por causa da falta de oxigênio a 2 quilômetros de profundidade.
Um navio naufragado intacto, mesmo depois de 24 séculos, nos ajuda a colocar em perspectiva o tempo que passamos por aqui. Um cidadão que viva 80 anos representa 3% do tempo que a embarcação está no fundo do mar.
Então, o objetivo é fazer valer a pena os 3% que nos cabe. Há momentos que não adianta lavar as mãos, se esconder ou se fazer indiferente. O que vamos querer que nossos descendentes encontrem no século 45? A construção de uma sociedade justa, ou um legado de violência?
E mais uma dúvida: como serão os relógios públicos até lá? O tempo vai existir, óbvio, mas e os relógios? E o público? Bem, certamente essa resposta nunca saberei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário